Gentileza nas relações íntimas

A gentileza nas relações íntimas são, com frequência, negligenciadas em detrimento às relações sociais, o que ocorre por uma gama de fatores. Dentro de casa as relações são entre familiares, o que inconscientemente libera para um tratamento mais autêntico. Sem cuidados, sem zelo, com menos limite nas raivas, angústias, mal humores etc. pois o laço sanguíneo e as dependências emocionais e financeiras sugerem que mesmo em um ambiente sem gentileza a relação irá continuar e portanto pode-se agir como se bem desejar.
Com isso pais muitas vezes são grosseiros com filhos, pois acham que tem o direito e o poder. Maridos com esposas, esposas com maridos, filhos com pais, relação entre irmãos. E muitas famílias se desenvolvem e crescem nesse clima e ambiente em que falta a cortesia, a gentileza, a comunicação do afeto, e é normalmente onde se encontram os maiores amores. Contraditório, não? As máscaras sociais necessárias para a convivência em grupo , termo designado “Persona” pela Psicologia Junguiana, nos possibilita a reflexão sobre até que ponto a Persona (a palavra significa “máscara” em grego, e o termo na Psicologia como já dito, designa as máscaras necessárias para convivência em uma vida em comunidade) deve ser utilizada apenas com pessoas do convívio social, ou se deve também ser utilizada nas relações íntimas.
Pessoalmente já convivi com inúmeras famílias, inclusive as minhas materna e paterna, e somado ao caminho dentro da Psicologia Clínica, posso relatar que já presenciei de tudo. Tanto famílias em que o respeito, cortesia, gentileza e amorosidade regem as relações íntimas, quanto famílias em que existe muito amor, mas falta amorosidade nas relações. Não só amorosidade, mas gentileza, cordialidade e as vezes até mesmo respeito. Por exemplo, os pais são figuras de autoridade e tem a função de colocar limites nos filhos. Eles tem o poder. E muitos abusam desse poder, gritando, falando rispidamente, de forma grosseira. Colocar limite não é isso. Pode e deve ser feito com respeito.
Estudiosos da Psique afirmam que a raiva não deve ser descarregada na criança. Não se deve castigar por raiva de um filho, mas porque ele está errado. A raiva é um sentimento interessante de se pensar… Em nossa cultura , até um tempo, era reprimida. Muitas religiões ensinavam que não podíamos senti-la. A Psicologia baseada em estudos científicos já não diz isso. Prega que raiva é um sentimento humano, e que senti-la é quase inerente a nossa condição imperfeita. O importante é o que fazer com ela. Tem pessoas que matam, agridem, quebram as coisas, machucam os outros. Isso é o que não pode acontecer. É necessário que a raiva saia sem causar danos dessa natureza.
Formas de canalizar esse sentimento podem ser por exemplo através do choro, da conversa após o sentimento ficar menos intenso interiormente. Um material trabalhado com adolescentes fala em gritar para dentro de um travesseiro, escrever uma carta furiosa e rasgar depois, etc. A raiva reprimida também trará conseqüências negativas. Ela tem que ser canalizada. Enfim, é possível, salutar e importante que as raivas, frustrações, medos, não aceitações, saiam de dentro do indivíduo sem ser através das pessoas com as quais a convivência é mais intensa. As pessoas de nossa família não tem que aturar nosso mal humor e nem devem ser as vítimas das nossas frustrações, em linguagem coloquial, um “saco de pancadas”. É importante que nossas tristezas, frustrações, amarguras saiam de nós através de canais saudáveis. Atividade física, terapia, trabalho, produtividade, motivações etc. ( o sonho é um grande e um dos principais canais humanos), ao invés de saírem através de reações agressivas com as pessoas próximas. Isso é uma questão de treino, cultura, costume.
Filhos criados em ambientes saudáveis serão mais inteligentes emocionalmente que os criados em famílias que não conseguem a amorosidade na intimidade. Agradeço às famílias que conheci ao longo da vida que alimentavam relações saudáveis, amorosas e gentis na intimidade. Em especial às minhas…