O Homem e o Futebol

“As atitudes esportivas são, essencialmente, formas modificadas de comportamento de caça. Visto biologicamente, o futebolismo moderno surge como membro de um grupo de caça disfarçado. Sua arma de abate se transforma num inofensivo pé na bola, e a presa, numa trave. Se a pontaria é precisa e ele marca um gol, goza o triunfo do caçador que abateu a presa.”
Com esse parágrafo inicia-se o capítulo sobre “Comportamento Esportivo” do livro “VOCÊ, Um Estudo Objetivo Sobre o Comportamento Humano” que meu amigo Paulo Antônio, editor deste jornal, me apresentou e vale a pena, com certeza, dividir com você, leitor.
“Para compreendermos melhor este primeiro parágrafo, devemos olhar, rapidamente, para os nossos antigos ancestrais. Eles passaram um milhão de anos evoluindo como caçadores cooperativos. Sua própria sobrevivência dependia do sucesso no campo de caça. Sob tal pressão, todo o seu modo de vida e até seu corpo, sofreu mudanças radicais. Tornaram-se perseguidores, corredores, saltadores, apontadores, atiradores e matadores de presa. Então, há coisa de dez mil anos após este período imensamente longo e formativo de caçar o alimento, tornaram-se criadores. Sua inteligência aperfeiçoada tão vital para o velho estilo de vida de caça, foi colocada a novo uso: o de encurralar, controlar e domesticar a presa. De repente a caça se tornou obsoleta. A comida estava lá, nas fazendas, esperando pelas suas necessidades. Entretanto, as habilidades e impulsos para caçar permaneceram e exigiram novas formas de extravasamento. Caçar por esporte substituiu caçar por necessidade. Depois da Revolução Industrial, a vasta maioria dos homens adultos nas entumescidas populações humanas afastou-se ainda mais da sua já remota herança de caçadores. A produção em massa e a industrialização levaram a um trabalho cada vez mais entediante, previsível, repetitivo. A essência do antigo padrão de caça era envolver muito exercício físico combinado com risco e excitação. Foram surgindo assim as várias atividades esportivas. Encarado desse modo um jogo de futebol se torna uma caçada recíproca. Cada time, ou “grupo de caça”, tenta marcar um gol apontando a bola, ou “arma”, na direção da trave defendida, ou “presa”. Como a trave defendida é mais imprevisível do que seria uma trave aberta, a caça se torna mais excitante, a ação mais rápida e atlética, as habilidades mais fascinantes.”
Ao encerrar o capítulo, depois de explanar sobre a evolução e o surgimento dos vários esportes, o autor faz um comentário interessante: “existe outra forma aberrante de esporte que merece comentário. É o esporte não de matar homens, mas de “matar mulheres”. Outra primitiva definição de esporte, dada pelo dicionário, é “brincadeira amorosa”, e a perseguição de mulheres frequentemente se assemelhou a uma caçada. “A sequência normal do namoro na espécie humana tem muito das características de uma caçada simbólica, culminando no clímax da cópula como um abate simbólico. Num autêntico relacionamento sexual, esse clímax anuncia o desenvolvimento de um vínculo entre o par, um elo profundo de ligação entre o par, que o ajudará a enfrentar os rigores do ciclo de reprodução que, na nossa espécie, dura muitos anos e faz grandes exigências a ambos os genitores.” Assim termina o autor.
Como esta é uma leitura antropológica eu, particularmente, pensei em mais mudanças ocorridas desde a caça primitiva. Hoje em dia, as mulheres estão entrando com toda intensidade neste mundo da caça. Estão jogando futebol, estão “caçando intelectualmente” e inclusive nas questões amorosas o homem está deixando de se tornar apenas caçador. É hoje também a presa. E as mulheres estão deixando de ser as vítimas passivas. Os papéis estão se igualando. No esporte, no trabalho, no amor, todos caçam e são caçados. Muitos não percebem e não aderem às mudanças, mas elas estão aí, presentes e marcantes.

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