Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Esta terrível epidemia chamada AIDS, que assola o mundo todo foi muitas vezes questionada se não teria sido desenvolvida em laboratórios. O país que tem o maior índice de infecção (HIV) é a África, onde campeia a pobreza e o primitivismo, além de guerras pela libertação das mãos dos tiranos.
Pensou-se que nos tubos de ensaio, o vírus teria mudado o código genético e por um descuido, teriam se infiltrado no sangue de muitos inocentes. Durante muitos anos os cientistas têm pesquisado e admitido que este vírus (HIV) não seria oriundo de experiências laboratoriais e sim de alguma espécie animal. Recentemente descobriu-se que o HIV estava intimamente relacionado ao vírus SIV, provenientes da espécie de macacos Símios, mas que ainda não havia meios técnicos de detectar qual população selvagem abrigava o vírus.
Os macacos que mais se identificam com a espécie humana são os chimpanzés, que durante muitos anos foram alvos de experiências mortais e até mesmo enviados ao espaço sideral através de foguetes, para estudos da influência das energias cósmicas nos seres vivos. Esta descoberta põe a ciência um passo à frente na descoberta da vacina anti-HIV, já que os macacos têm no sangue anticorpos contra o vírus da AIDS e, portanto, não contraem a doença. É uma peça que faltava nos quebra-cabeças, agora podemos entender quanto a diversidade do vírus se deve ao contato dele com humanos e quanto dela já existia nos chimpanzés.
Com análises genéticas mais refinadas, os pesquisadores conseguiram ainda distinguir as origens de duas variantes do vírus, uma pandêmica (que atinge todo o globo terrestre) e outra que só existe em partes da África. Cada uma delas infectava populações diferentes de chimpanzés dentro de Camarões, país africano que ficou conhecido pelo belo futebol apresentado na copa de 1994. À medida que populações de chimpanzés forem sondadas, os cientistas podem ter pistas sobre como o HIV ganhou a capacidade de infectarem humanos. Mas acreditem se quiserem, a principal pista está no hábito de consumo de carne de macaco, pelos africanos. Daí a infecção se alastrou da África e disseminou para todo o mundo.
A alimentação de carne animal sem controle sanitário se mostra cada vez mais perigosa e já disseminou várias moléstias como a “Vaca Louca” e agora, a “Gripe Aviária”. Em muitos países da África é comum o consumo de carne de chimpanzés, gorilas e outros grandes macacos, sem contar cobras, lagartos entre outros animais. Após a ingestão da carne, o vírus infectaria o ser humano e após se multiplicar, seria eliminado pelas secreções, principalmente as originadas das glândulas sexuais. Partindo deste princípio os cientistas estão trabalhando para determinar quais mutações se acumularam quando ele ainda estava no hospedeiro original, e o que essas mudanças significam em termos patológicos.
Como o reservatório de SIV (vírus do macaco) ainda existe tanto em Camarões como em populações de chimpanzés de outros países africanos, o consumo de carne símia aumenta bastante o risco do surgimento de novas variantes do vírus da Aids capazes de infectarem humanos. Sem recursos adequados, os caçadores ilegais não têm como separar os chimpanzés infectados por SIV daqueles não infectados, já que o vírus não deixa os macacos doentes, e quando passados para os humanos são capazes de mudar suas características genéticas e destruir o sistema imunológico. Se o bushmeat (hábito de comer animais selvagens) continuar, não há nada que garanta que isso não vai acontecer.
O surgimento de uma nova variante do vírus seria um sério problema para o desenvolvimento de vacinas, já que é possível que a imunização eficaz não cubra todos os subtipos de HIV existentes. O bom de tudo isto, é que a ciência está vencendo esta guerra, seja com os retrovirais (medicamentos) ou na busca de uma vacina que imunize o ser humano.
Na história tivemos a varíola e a febre amarela, que no passado desafiaram todos estudiosos, foram vencidas com o estudo e muito esforço. Esperamos que esta descoberta seja um alento aos governantes dos países de primeiro mundo, que hoje gastam milhões de dólares no tratamento da AIDS, no sentido de aplicarem recursos nos pobres países famintos, e que vivem entre a ignorância, a miséria e a disseminação das doenças.
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.