Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
O coração é o símbolo do amor, da sutileza e da afeição. Quando temos algum tipo de afeto, o lirismo poético declina o coração como o albergue da paixão. De forma similar, a filosofia milenar oriental sabiamente ensina que a emoção está diretamente ligada com a saúde dos órgãos e quando são bem processadas, a harmonia entre corpo e mente se estabelece. “Quando temos a felicidade, a energia do coração se equilibra” (Su Wen – livro chinês – 150 a.C).
Além disso, o coração também exerce uma ação como uma “bomba” que distribui através circulação sanguínea, o oxigênio e nutrientes a todo corpo e, consequentemente, mantém a vitalidade das células. Em caso de falha, o indivíduo padece, adoece e muitas vezes, se sucumbe. Até pouco tempo, todos os conselhos e preocupações acerca de cuidados com o coração visavam em predominância os indivíduos do sexo masculino. Também pudera, eram os representantes do chamado sexo forte que vivem estressados por causa do trabalho, adicionando-se quase sempre, ao uso do tabaco de forma descontrolada (até três maços por dia), além do consumo das gorduras saturadas acompanhado do etilismo. Aliado ao sedentarismo, todos estes fatores conduziram durante um bom tempo a prevalência masculina nas estatísticas das doenças cardiovasculares. Quase sempre se ouvia alguém falar: “ Fulano de tal sofreu um ataque do coração”. Geralmente, esse tipo de comentário se remetia aos homens.
Atualmente, quando os direitos e deveres do homem e da mulher se tornam paritários, esse tipo de problema não é mais da exclusividade masculina. Segundo pesquisas do Center for Disease Control and Prevention (EUA), o infarto do miocárdio e o derrame cerebral ocupam juntos os primeiros lugares no ranking das causas de morte mais frequentes entre as mulheres. O infarto é responsável por 35% dos óbitos femininos. O câncer ginecológico vem em segundo lugar com 15% e o de mama em terceiro, com 15%.
Qual seria então, o motivo da mulher estar alcançando o homem nas estatísticas de doenças cardíacas? Não é difícil entender. A mulher entrou no mercado de trabalho competitivo e, assim como o homem, começou a enfrentar problemas, como a pressão do mercado, o estresse, a depressão e o pânico. Além do mais, tudo isso legitimou a mulher ao uso do fumo, a falta de tempo para realizar exercícios físicos, a alimentação inadequada e ao corre-corre desenfreado. O resultado não poderia ser outro: mais doenças do coração no quadro de estatísticas de doenças femininas.
O Cigarro e a Pílula Anticoncepcional
A nicotina existente no fumo é o principal fator de risco para problemas cardiovasculares. E essa ‘bomba’ se potencializa se estiver associada aos hormônios sintéticos existentes nos contraceptivos orais (pílula). “Essa combinação é muito prejudicial ao coração, porque deixa o sangue mais viscoso, os vasos menos calibrosos, facilitando dessa forma, a obstrução dos vasos”. Somado aos junk foods (sanduíches) calóricos e engordurados que vem substituir o almoço, aliados à falta de tempo para práticas físicas.
Para se ter ideia, antes a proporção registrada nos boletins médicos, era de oito representantes do sexo masculino com problemas cardiovasculares para dois do sexo feminino. Hoje o placar mudou: Há seis homens cardíacos para cada quatro mulheres portadoras de cardiopatias, ou seja, a proporção está praticamente igualada. E os fatores de risco aumentam depois da menopausa, pois nessa fase a mulher não possui mais a proteção natural dada pelo hormônio estrogênio . A partir dos 60 anos elas passam a ter os mesmos riscos que os homens para infarto e “mais chances para derrame”.
Já que diante do atual panorama socioeconômico a mulher passou a trabalhar fora, é preciso que ela adquira imediatamente hábitos de vida mais saudáveis. Estabelecer horários para as refeições e fazer uma alimentação balanceada – livre de carnes gordas, frituras e açúcar refinado, por exemplo, bem como praticar uma atividade física. Fazer Check-up deixou de ser privilégio dos homens, e passou ser ato obrigatório na mulher dos tempos modernos. Assim, a mulher que nestes tempos assume cargos e delibera questões influentes, adquiriu mais uma responsabilidade… a saúde dela.
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.