Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Sexta feira, 21 horas e um frio de “doer os ossos”. A rodoviária de Belo Horizonte com a confusão rotineira de um “chega e vai” a todo instante, eu voltando pra casa após mais um dia de trabalho.
O ônibus ia cheio, com moças e senhoras em pé, fato comum onde o cavalheirismo fica mudo. Quando entro, muitos companheiros me saúdam com as costumeiras “chacotas”, confundindo todo mundo, já que meu nome é Geraldo Brasil .
Como existe um outro Geraldo na minha área de trabalho passaram a me chamar simplesmente de Brasil, e assim sou conhecido por todo lado. Nesta estrada do cotidiano, trabalhadores voltam com a esperança de um dia a cidade natal recuperar os empregos e assim diminuir o tempo perdido na perigosa BR .
Quando o ônibus parte em direção à av. Cristiano Machado, o balançar rítmico do “balaio”, embala a maioria dos passageiros a tirar uma proveitosa soneca, curtindo a poltrona confortável do vermelhão.
Distraidamente comecei a dormir e a sonhar…. Sonhava que estava na praça José Brandão caminhando à tardinha quando um grito anunciava um “apagão “. Dois rapazes e uma moça comemoravam a passagem para a universidade, no primeiro vestibular da história de Caeté. Até que enfim o prédio do antigo cinema abria suas portas para o futuro.
A moça desorientada exclamou: Poxa, logo hoje que eu passei no vestibular acontece uma coisa dessas! Sem “som ” fica sem graça… E na escuridão mal dá pra enxergar as pessoas! Na janela da praça, Dona Arminda clamava para que “Deus” ajudasse . Sem energia elétrica ia ficar difícil assar os “pães de queijo” no forninho elétrico.
Repentinamente ouvia-se um estardalhaço, um rapaz grita pra irmã : – Traga a toalhaaaaaa! O chuveiro esfriou e a luz apagou! Diante desse quadro, não restava outra alternativa senão tomar uma cerveja pra espantar o cansaço da semana. Caminhando calmamente com o isqueiro clareando meus passos em direção ao boteco, ao longe mostrava as sombras dos frequentadores diante das chamas das velas e lamparinas.
Naquele momento ” Claret ” um poeta notívago, me encontrara e dissera : Geraldo,
longe dos clarões dos neóns
surge a clarividência,
que no obscuro e obtuso
acontece o retorno à passárgada
A iluminação é sinal de santidade. Entre a luz e o brilho existe uma grande diferença.
De longe ouvia-se um coral Vilela, cantando uma música antiga do Toquinho. Uma fogueira esquentava a noite fria de maio, e a lua com sua luz solar, presenciava todo o cortejo. Ela parecia falar pra todo mundo que o planeta merece respeito…. Respeito de todos, principalmente dos desmazelados Governantes. Repreendia com veemência. Cuidem das florestas, evitem queimadas, não poluam os rios e defendam o meio ambiente, que é a casa de todos nós.
Se alguém duvida, me responda: À quem pertence o céu, o sol e as estrelas ? Qual o poder que delega ao homem ultrajar todos os rios e não ter “piedade “da serra? Criando no artificialismo uma máscara para a sobrevivência, o ser humano caminha ao acaso. Refletindo na consciência de todos, comentamos: A lua está certa. Todos pararam e reverenciaram sua sabedoria. Ela tem a luz do Universo. Quem sabe o povo passe a cuidar melhor do nosso país…
Neste instante, o ônibus pára e alguém me chama: ACORDA BRASIL, ACORDA BRASIL! Chegamos. Atordoado do sonho, capitulei…. Ainda bem que entre sonho e o pesadelo existe a possibilidade de pensarmos na REALIDADE
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.