Dr. Carlos Eduardo Guimarães

Crack: A epidemia maligna

Dr. Carlos Eduardo Guimarães*

Ontem eu fui procurado por um pai desesperado. Ele pedia ajuda para seu filho de 18 anos, dependente químico. Sem saber como proceder, o senhor com os olhos cheios de lágrimas, suplicava: “Por favor salve meu filho”.
Esta cena comovente está cada vez mais comum em nossa sociedade. Falei com o senhor para trazer o rapaz ao meu consultório para uma avaliação, e para poder traçar uma estratégia de tratamento. No mesmo dia, quando o rapaz chegou, sua expressão era de cansaço, trêmulo, com os olhos vermelhos e embaçados. Na face, uma aparência esquelética e de medo.
Conversei um longo tempo com ele, que me dizia ter sido vítima de uma ?armação? de um conhecido que ofereceu crack dizendo que era maconha. “Desde 15 anos fumo maconha e nunca fiquei assim. Fumei crack uma vez e viciei”, dizia o rapaz.
O pai reservadamente, me perguntara sobre o poder de destruição física e psicológica da droga e eu lhe respondi: – O crack eleva a temperatura corporal causando uma hipertensão arterial reativa, podendo levar o usuário a ter desmaio ou a um derrame.
Um dos piores efeitos lesivos do crack é a destruição de neurônios provocando no dependente uma degeneração e atrofia dos músculos do corpo, o que dá a aparência esquelética ao indivíduo. O rosto do viciado tem aspecto “cadavérico”, sem contar que os braços e pernas ficam atrofiados, finos e costelas aparentes.
Normalmente um usuário de crack, após algum tempo de uso utiliza a droga apenas para fugir da sensação de solidão e desconforto causado pela abstinência e outros desconfortos comuns à outras drogas estimulantes. A consequência é um estado permanente de depressão e medo, além da agressividade.
O pai interessado na ajuda me pergunta: -Por que esta droga é tão poderosa doutor? – O crack é uma droga derivada da planta de coca. É feita do que sobra do refinamento da “merla” que é sobra do refinamento da cocaína ou da pasta não refinada misturada ao bicarbonato de sódio e água.
O crack é uma droga muito intensa, justamente por ter um grau de pureza maior que a cocaína. Pertence ao grupo das drogas estimulantes e geralmente provoca alucinação. Seu efeito chega rápido ao cérebro podendo levar entre 5 e 10 segundos para iniciar. Sua duração é curta, em média de 5 a 10 minutos. Essa característica faz com que os usuários repitam o uso muitas vezes, levando-o à dependência severa em muito pouco tempo, geralmente com pouco uso o indivíduo já pode ser considerado um dependente.
Uma ocorrência comum é o envolvimento do viciado com o tráfico de drogas para garantir ao usuário a droga de forma constante. Os crimes, sequestros e outras contravenções, têm como ponto de partida o uso de drogas químico-dependentes
O tratamento é realizado através de psicoterapia, acupuntura e neurolépticos. É muito importante neste momento o apoio familiar de uma forma incondicional.
Diante destas informações o pai do rapaz estava confortado e esperançoso. O tratamento poderá garantir ao seu filho, a perspectiva de um futuro feliz.

ATENÇÃO LEITOR (A): que tem filhos adolescentes, tenha tempo para conversar com eles sobre este tema, orientando e observando as amizades e com quem se relaciona. O problema não é só de quem tem filho ou filha viciado. O problema é de todos nós.
Precisamos assumir que a sociedade é uma relação sistêmica, pois todos somos parte dela. Portanto, o que você está fazendo para ajudar? Divulgue este tema nas escolas, associação de pais de alunos, e associações comunitárias. O futuro está nas mãos de quem prepara a juventude para o amanhã..
Até a próxima.

*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.