Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
(A história da reconstrução da Santa Casa em 1963 – O Dinheiro que salvou vidas )
“No início dos anos 60, a Santa Casa funcionava na base do improviso. Faltava tudo, e não mediamos esforços para tratar os pacientes que nos procurava” lembra Dr. Paulo.
Utilizando medicamentos doados pelos laboratórios e roupas de cama doadas pelo do Dr. Paulo, o atendimento acontecia com muito carinho e dedicação. As dificuldades eram muitas e não haviam recursos, pois o dinheiro arrecadado com as consultas eram insuficientes na manutenção e no pagamento dos médicos.
Naquela época, existia um fundo de auxílio às instituições de saúde, enviado através da Comissão do Vale do São Francisco (Ministério da Saúde) e que cabia à Santa Casa o valor de dezessete mil cruzeiros, dinheiro este que poderia representar a redenção de muitas instituições . Para receber este dinheiro, era preciso que a Santa Casa estivesse com toda a contabilidade em ordem, o que não acontecia, devido ficar muitos anos fechada.
Apareceu nesta época o Dr. Antônio Clímaco Dias, advogado e contador que, após tomar ciência da necessidade de organizar a contabilidade, elaborou os balancetes e “arrumou a casa”, sem cobrar “um tostão”. Acompanhado da declaração do Juiz da Comarca, Dr. Argemiro Otaviano de Andrade que afirmara em documento estar a Santa Casa atendendo plenamente a população e também regularizada dentro do contexto jurídico e contábil, só restava esperar pelo dinheiro. Só assim a Santa Casa poderia receber a verba redentora.
Passados quatro anos, quando tudo parecia perdido, seis meses antes da reabertura da Santa Casa, o Sr. Antonio Daniel ligou para o Dr. Paulo dando a notícia do recebimento da verba. Neste momento, a emoção foi grande, Dr. Paulo teve momentos de taquicardia e choro. Desta forma foi possível equipar a Santa Casa, com roupas e aparelhos médicos necessários ao seu funcionamento. A reabertura se deu em 3 de setembro de 1967.
Cesariana na Inauguração
Na reabertura da Santa Casa, quando vivíamos um momento festivo, Dr. Paulo foi chamado às pressas para realizar uma cesariana na Sra. Maria Aracy. Auxiliado pelos colegas, Dr. Nélson Veiga e Dr. Omar Barbosa, a cesariana foi um sucesso.
Com o passar dos tempos, fomos crescendo e fechando contratos e convênios com o Funrural e posteriormente com o INPS. Estes convênios possibilitaram a melhoria da instituição e também das presenças de grandes médicos, que vinham de Belo Horizonte para realizar tratamentos na Santa Casa. Eram eles: Dr. Ascânio Barros, Dr. Raul Franco, Dr. Airton Rosemburgo e Dr. Danilo Marinho. E assim, a Santa Casa foi melhorando passo a passo.
A maternidade tinha grande movimento e contava com o trabalho incansável dos doutores: Romeu Teixeira, Vitório, Nélson, Omar, Waldir e Paulo Monteiro. O tempo foi passando e Caeté crescia vertiginosamente. Era preciso ampliar o atendimento. O espaço que foi tão arduamente construído, já não atendia mais a população. Foi aí que surgiu um novo desafio: A construção de uma nova Santa Casa.
A doação do terreno
Gil Muniz Coutinho, conhecedor do trabalho filantrópico desenvolvido na Santa Casa, foi peça fundamental, para que fosse adquirido um terreno na rua Barão do Rio Branco. O terreno pertencera a três irmãs que haviam falecido e deixaram o terreno para uso de alguma instituição beneficente.
Conseguido o terreno, a próxima etapa era “levantar as paredes”. Com o apoio dos prefeitos, Raimundo Cassimiro e Jair de Carvalho, a Santa Casa rapidamente ficou pronta e o prédio foi cedido pela Prefeitura à sociedade civil, em permuta com prédio antigo. Com o passar dos anos, a Santa Casa foi fundamental na história da cidade e continua sendo um grande esteio, visto que a CFB entrara em decadência ano após ano.
Hoje, a Santa Casa continua sendo o local de grande procura da população de Caeté, realizando cirurgias, partos e internações diversas, nunca esquecendo que seu início se deu com o esforço de muitos abnegados que deixaram seus nomes na história.
O início de tudo se deu graças ao empenho e doação de alguns. Digo a todos que, antes de sermos profissionais, temos que ser íntegros e envolvidos com a causa. Não basta ter diploma sem ter hombridade, não basta ser bom sem ter atitude. Obrigado Dr. Paulo, por tudo que fez e faz pela gente desta cidade.
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.