Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Esta semana que passou realizamos em Belo Horizonte um simpósio sobre obesidade e seus fatores de risco. Mais uma vez, o polêmico tema abriu espaço para vários estudiosos no assunto evidenciando a complexidade da matéria e as várias formas de tratamento para este distúrbio. Mas afinal de contas… obesidade é uma doença?
Sim, a obesidade é considerada um distúrbio metabólico no qual o obeso está propenso à vários riscos na sua saúde, seja nas complicações futuras (diabetes, artroses, distúrbios circulatórios etc…) ou mesmo em implicações físicas e emocionais.
Nesta “jornada” ficou bem claro que a ciência ainda não descobriu algum remédio “milagroso”, que possibilite a pessoa perder peso sem que mude os hábitos no qual foi criado e que altere a programação do complicado procedimento social. O comportamento social, que sempre põe a comida junto aos encontros e comemorações, colabora de forma importante para que a obesidade se estabeleça sem que percebamos. É assim desde os tempos da Grécia antiga.
A obesidade geralmente começa na infância. Desde crianças somos envolvidos com o prazer dos sabores, e como não bastasse, qualquer atitude de menino “levado”, sempre era compensada com algum bombom ou sorvete para que aceitássemos as condições impostas. “Menino, se você ficar bonzinho, te levo pra tomar um sorvete”. Daí vem um comportamento que liga o prazer à recompensa.
Sabemos que um grande número de obesos iniciou seu distúrbio desta forma. Mas tem aqueles que desenvolveram a obesidade na fase adulta, devido a distúrbios glandulares ou mesmo levados pela compulsão alimentar, guiados pelo desespero emocional.
O resultado do Simpósio evidenciou uma complexidade de teorias, que ao mesmo tempo cai na simplicidade dos fatos: Emagrecer é um processo em que implica mudança de hábitos. Reprogramar os acontecimentos do dia a dia, sob orientação de profissionais especializados. Sem essa mudança, nada feito. O principal é nos educarmos diante da gula e racionalizar o comportamento diário.
Mudar a dieta e começar a fugir do sedentarismo é o ponto de partida. Existe um termo científico que define bem o futuro das pessoas que querem emagrecer: Taxa de metabolismo basal (TMB). Esta taxa é a expressão da quantidade de calorias que são queimadas para manter nossas funções em equilíbrio. A TMB geralmente é muito baixa nos obesos, muitas vezes por questões hormonais e também constitucionais. Para emagrecermos temos que aumentar a TMB, da mesma forma que uma fornalha quando aumenta o fogo, cozinha mais rápido. O ideal é uma orientação profissional especializada, devido a elaboração individualizada de dietas e um programa de hábitos e atividades físicas adequado.
Outra questão: sem atividades físicas fica difícil emagrecer. Os movimentos físicos influenciam na manutenção da taxa de metabolismo basal elevada e evita que a pessoa pare de emagrecer. É muito comum o paciente perder muito peso no inicio do tratamento e depois parar de emagrecer. Isto se deve a adaptação da taxa de metabolismo basal, que não acontece quando ocorre o trabalho muscular.
E por último, o mais complexo: Equilibrar o emocional. Para que isto ocorra, sempre bom que estejamos motivados a alcançar os objetivos traçados, aumentando a auto-estima e o poder da auto-realização. Alguns métodos podem ajudar nesta etapa, como acupuntura, massagens, ioga, meditação etc… mas cuidado com as fórmulas ditas “homeopáticas”!!! Na verdade são constituídas por medicamentos perigosos e extremamente tóxicos.
Nunca espere que alguém ou algum medicamento faça algo por você. Eles podem apenas lhe auxiliar em algumas situações. Não existe nada que caia do céu. Então para que possamos emagrecer, teremos que entender que o tratamento deve ser seguido igual a qualquer tratamento que exija mudança de dieta e hábitos. A disciplina é a demonstração do amor que temos por nós mesmos.
Se quisermos atingir o peso ideal, necessariamente, teremos que começar pela conscientização, e o reconhecimento da nossa postura diante das nossas atitudes.
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.