Dr. Carlos Eduardo Guimarães

Entre o sonho e a realidade

Dr. Carlos Eduardo Guimarães*

Outro dia tive um sonho. Nele voltava ao passado e reencontrava minha casa antiga, que já não existe mais. Nela eu passei minha infância e boa parte da minha vida. Nesse sonho eu me encontrava frente a janela do meu quarto, que ficava no sótão.
A janela e o quarto continuavam os mesmos e o cenário mudava a cada estação do ano. Na primavera podíamos ver as flores, no inverno, o entardecer cedo, no verão, cores mais vibrantes, e no outono, os pássaros fazendo suas ninhadas. Essa janela ficava aberta e todas as pessoas que chegavam, eram atraídas a dar uma “espiada”.
Bastava chegar e admirar. Nela ficávamos a observar vários ângulos dos fatos. Certo momento, olhava as meninas com um olhar de “encanto tímido”, e muitas vezes, até envergonhado, me escondia. Nessa época ficávamos namorando os carros “último tipo”, idealizando estar dentro deles, quando o futuro ainda representava uma expectativa.
O tempo ia passando e a janela continuava mostrando as pessoas em constante transformação. Cada momento era um ângulo novo da vida. A janela envelhecia junto com os fatos. Certo instante, um amigo aproximou diante da janela e observou uma castanheira frondosa com seus ramos suspensos e comentara: Esta árvore poderá cair a qualquer momento! Parece velha e sem vida….
Esta árvore existia há muito tempo e meus olhos nunca perceberam a possibilidade dela cair. Essa mesma pessoa observou um menino subindo na castanheira. Logo após, o menino caiu, levantando-se assustado e saindo em disparada .
Naquele momento iniciava um grande temporal e a janela teve que ser fechada. Quando passou a chuva, a janela foi novamente aberta. Tivemos a oportunidade de debruçar juntos e observar no mesmo momento coisas iguais em ângulos diferentes. Neste momento acordei. Após acordar lembrei o sonho e, logo após interpretei o ocorrido durante o sono.
Aquela castanheira que meu amigo observara de forma sinistra, foi visto por mim como o símbolo da natureza e da vida. A árvore sadia é o maior sinalizador que a existência humana terá sobrevivência. Posteriormente lembrei daquele menino que caíra da árvore e pensei que ele poderia ter aprendido que na vida muitas vezes, a queda nos indica como encontrar caminhos seguros, e aquela tempestade que amedrontou, formara um grandioso espelho d?água onde podíamos observar o céu com suas nuvens flutuando no meio da terra molhada.
Acordado pensei, ficou uma grande lição. As janelas por onde olhamos o tempo todo são os nossos olhos. Estes olhos que enxergam de acordo com o que queremos ver. A janela do meu quarto era a mesma de muitos anos, o que mudavam eram os olhos de quem chegava lá pra espiar.
Tudo o que acontece hoje, teve início há algum tempo atrás. Se desejarmos um futuro carregado de realizações, estas fatalmente começarão através de nossos pensamentos e dos nossos olhos. Você conhece alguém pessimista que tenha dado certo na vida?
Portanto, para que possamos ver a vida com esperança e positivismo, é preciso aprender ver com “bons olhos” as mudanças que o tempo conduz. Desejar ver o bem é transmitir ao inconsciente um movimento que passa existir dentro de nós.
Os sonhos bons nunca envelhecem, a partir do momento em que dormimos com ele e acordamos com fé na sua realização.
Até a próxima

*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.