Dr. Carlos Eduardo Guimarães

Horário de Verão pode ser prejudicial

Dr. Carlos Eduardo Guimarães*

O que acontece com a saúde quando mudamos o relógio biológico? Bem, os organismos de todos os seres vivos do planeta obedecem o ciclo circadiano ou seja, as mudanças do dia e da noite.
Quando acordamos pela manhã, uma série de hormônios são produzidos ( cortisol e adrenalina ) e à noite outros hormônios são secretados, nos induzindo ao sono ( melatonina e serotonina ). Isto explica porque o galo canta pela manhã e os animais procuram refúgio à noite, pois neles também ocorre uma variação hormonal que rege o comportamento de cada espécie.
Em síntese, nosso corpo mental e físico obedece às variações climáticas, seja da noite para o dia ou do inverno para o verão. Quando mudamos abruptamente nossos hábitos diários, como ocorre quando viajamos para o Japão (fica do outro lado do mundo…), o organismo leva um verdadeiro choque do sistema nervoso autônomo, sistema que controla os hormônios e outras ações do organismo, e por isso demora algum tempo para adaptar às mudanças de horário.
Visando estudar os efeitos da mudança do fuso horário, pesquisadores da Universidade da Virgínia descobriram que ratos expostos a mudanças semelhantes às vividas por seres humanos com horários irregulares morrem mais cedo. Eles analisaram como ratos jovens e idosos reagiam a mudanças no equilíbrio natural entre dia e noite.
Para isso, os ratos foram divididos em grupos. Um desses grupos teve os relógios avançados em seis horas, uma vez por semana, uma diferença equivalente ao fuso horário entre a Grã-Bretanha e Bangladesh. Com isso, os ratos passaram menos tempo no escuro. O outro grupo teve os relógios atrasados em seis horas – uma diferença igual ao fuso entre a Grã-Bretanha e a cidade de Chicago, nos Estados Unidos – passando mais tempo no escuro. O terceiro grupo não sofreu mudanças nos horários.
Os animais mais jovens aparentemente não foram afetados pelas mudanças. Mas, entre os ratos idosos, apenas 47% dos que tiveram noites mais curtas sobreviveram. O número subiu para 68% entre os que tiveram noites mais longas e 83% para os ratos que não sofreram mudanças. Nos ratos idosos, o stress crônico não aumentou. Esse tipo de stress, que pode ser medido pelos níveis do hormônio cortisol, é frequentemente citado como a causa de problemas de saúde entre pessoas com turnos irregulares. Mas segundo os cientistas americanos, a razão do aumento da mortalidade nos ratos pode ter ligações com a falta de sono ou as alterações sofridas pelo sistema imunológico.
Seja qual for o mecanismo, o estudo levanta questões importantes sobre a segurança dos turnos que são alterados no sentido anti-horário (diminuindo a quantidade de sono dos trabalhadores) e as conseqüências de longo prazo para a saúde dos tripulantes de vôos que cruzam zonas de fuso horário com frequência. No caso do Horário de Verão, estas mudanças são modestas, mas ocorrem. O organismo demora pelo menos 15 dias para se adaptar ao novo horário, portanto devemos mudar os hábitos de maneira cuidadosa.
Colocar o despertador para nos acordar um pouco mais cedo, nos momentos que precedem o novo horário poderia ser uma atitude que ajudaria a amenizar os efeitos nocivos, só que ninguém gosta de perder aquela cochilada a mais…
Mas fica uma questão: Será que a economia que o Brasil faz compensa o desequilíbrio orgânico que este horário produz? Fica pra você analisar e concluir….
Até a próxima

*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.