Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Acredite, a “Obsessão Espiritual” como doença da “alma”, já é reconhecida pela medicina. Neste momento histórico, a medicina começa a aceitar o termo “Medicina Espiritual” como uma entidade nosológica específica de estados alterados da consciência.
Muito diferente do que muitos imaginam, a medicina espiritual não é vinculada a credos e religiões, e sim a fenômenos nos quais todos os seres poderão estar envolvidos. A hipnose é uma das técnicas médicas que trabalham o subconsciente atingindo o inconsciente.
O que é inconsciente? Muitos fenômenos que advém do inconsciente são explicados sem uma definição capaz de relatar sua magnitude real. Por isso, a medicina espiritual e os estados alterados de consciência estão sendo estudados por vários pesquisadores pelo mundo todo. A medicina chinesa tradicional, assim como a medicina ayurvédica que são práticas milenares e tradicionais, sempre estudou as energias cósmicas como sendo influentes no comportamento e também na saúde do indivíduo. Tudo tem uma ligação, desde os elementos mais simples do universo, até os mais complexos.
A alma (para os estudiosos) não é somente uma presença extra-corpórea que fica à espera o desencarnar para ir para o céu ou para o inferno, mas um veículo de evolução que armazena as experiências de cada um. A obsessão espiritual, na qualidade de doença da alma, ainda não era catalogada nos compêndios da Medicina, por esta se estruturar numa visão cartesiana, puramente organicista do ser e, com isso, não levava em consideração a existência da alma, do espírito. No entanto, desde 1998, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o bem-estar espiritual como uma das definições de saúde, ao lado do aspecto físico, mental e social.
Antes, a OMS definia saúde como o estado de completo bem-estar biológico, psicológico e social do ser humano e desconsiderava o bem estar espiritual, isto é, o sofrimento da alma; tinha, portanto, uma visão reducionista, não a vendo em sua totalidade: mente, corpo e espírito. Mas, após a data mencionada acima, ela passou a definir saúde como o estado de completo bem-estar do ser humano integral: Biológico, psicológico e espiritual.
Desta forma, a “obsessão espiritual” passou a ser conhecida na medicina como possessão e “estado de transe”, que é um item do CID (o código internacional de doenças) que permite o diagnóstico da interferência espiritual obsessora. O CID 10, item F.44.3 – define estado de transe e possessão como a perda transitória da identidade com manutenção de consciência do meio ambiente, fazendo a distinção entre os normais, ou seja, os que acontecem por incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados por doença. Neste aspecto, a alucinação é um sintoma que pode surgir tanto nos transtornos mentais psiquiátricos, nesse caso, seria uma doença, um transtorno dissociativo psicótico ou o que popularmente se chama de loucura – bem como na interferência de um conteúdo do inconsciente, a obsessão espiritual.
Na Faculdade de Medicina da USP, o Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, médico, coordena a cadeira (hoje obrigatória) de Medicina e Espiritualidade. Na prática, embora o Código Internacional de Doenças (CID) seja conhecido no mundo todo, o que se percebe ainda é muitos médicos rotularem todas as pessoas que dizem ouvir vozes ou ver espíritos como psicóticas e tratam-nas com medicamentos pesados pelo resto de suas vidas. Portanto, a obsessão espiritual como uma enfermidade da alma, merece ser estudada de forma séria e aprofundada para que possamos melhorar a qualidade de vida daqueles que padecem destes sintomas.
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.