Dr. Carlos Eduardo Guimarães

O casamento e a infidelidade

Dr. Carlos Eduardo Guimarães*

O casamento instituído nas bases do ensinamento judáico-cristão vem sendo questionado pelo mundo atual, a partir das mudanças sócio-culturais que os gêneros masculino e feminino vêm adquirindo nos últimos anos.
A monogamia (relacionamento fechado de uma homem e uma mulher), declamada e concebida no altar sacramental, vendo sendo burlado e ultrajado por alguns juramentados casais. A maioria dos meios informativos e de diversão, vem difundindo com muita naturalidade a liberação do ímpeto sexual, claramente exibido nas novelas ou em filmes que misturam ação, emoção e sexualidade. Os meios de comunicação, algumas vezes equivocadamente escancaram a moral e a ética, atropelando mitos e conceitos tradicionais. Nos tempos de hoje, as pessoas passaram a empreender a vida com mais coragem, e isto fez com que esteja sendo tirada de cena a relação bucólica do parceiro encarnado na insatisfação do casamento. Solidão à dois, foi descrita por Cazuza com muita propriedade. Todos estamos sujeitos a termos desejos ou sermos seduzido por outra pessoa, sejam homens ou mulheres. Neste contexto a emancipação feminina obteve essa conquista
Hoje em dia o número de divórcios e separações, tornou-se indicador da mudança dos tempos. A mulher parou de fingir estar feliz, assim como o homem passou assumir um papel “mais honesto” na relação conjugal, assumindo a impotência sexual diante da parceira que não mais o motiva. As funções cresceram, os papéis de cada um se diversificaram e as crises passaram a se estabelecer de uma maneira mais explícita.
Devemos pensar que a monogamia é conveniente para uma sociedade que acredita na efetivação de fatores morais. Porém, fazendo-se um mergulho nas emoções, não é bem assim que tudo acontece. O famoso “felizes para sempre” ficou pesado de se levar por toda uma vida. Mudou-se a idéia de durabilidade do vínculo matrimonial e o divórcio passou a ser encarado como uma das possíveis e prováveis alternativas. A infidelidade passou da ficção para uma possibilidade eminente. É uma grande bobagem não querer ver a realidade e cobri-la com um moralismo arcáico e conservador. Em sua grande maioria, os namoros não são mais edificados sobre o alicerce da fidelidade. Se observarmos bem, tudo o que estiver acontecendo hoje, teve o início há vinte anos atrás (Waldorf ). Mas e aí ??? Devemos aceitar com naturalidade os conceitos atuais ou acreditar que os desvios são pontos de correção da tortuosidade moral. Será que os desvios são tão ruins? Apesar de tudo, esta situação vem nos mostrar possibilidades de entendermos melhor as relações.
Uma delas é olhar por um outro ângulo, para que o velho casamento tedioso busque a renovação. Outra é adquirir força para encarar o divórcio tão desejado, porém tão temeroso; outros se manterão juntos sem se perdoar e o clima de ressentimento e agressão vai ser o recheio dessa união por toda a vida. Esse é um dos piores caminhos.
O importante é encarar as várias situações de infidelidade, mesmo as que parecem insignificantes, com muita responsabilidade e refletir como vem se sentindo em seu casamento.
Quais são suas falhas e quais são as do outro. Poder mensurar se a insatisfação que vem sentindo na vida poderá direcionar à novas maneiras de prazer. O importante é perceber que ninguém fica satisfeito transgredindo as leis matrimoniais. E isto deve ser redimensionado na consciência. Para alguns, a sexualidade ocupa um papel secundário no casamento, e se não for considerado o lado da(o) parceira(o), poderá transformar o conteúdo da vida conjugal à uma vida monótona, sem emoção e criatividade. Por isso todos somos vulneráveis e passíveis de emoções mais significativas, revelando a carência e a necessidade de calor humano. Poderá ser o fim ou quem sabe o recomeço…. A melhor conduta é refletir porquê está ocorrendo a transgressão e buscar uma saída honrosa e honesta. Despedir ou recomeçar, eis a questão…
Por isso nem sempre traição significa que o amor acabou, mas poderá ser um indicador consciente que o início de uma relação mais cuidadosa e madura, poderá acontecer. Na história da humanidade aprendemos que muitas vezes, a imperfeição e as tragédias são os verdadeiros construtores dos acertos.
Até a próxima.

*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.