Dr. Carlos Eduardo Guimarães

O dia do duelo entre os deuses

Dr. Carlos Eduardo Guimarães*

O Monte Olimpo aguardava com requinte o duelo entre Deuses. Quem sairá vencedor?
O embate entre Zeus e Axis atraíra uma multidão de divindades, 50 mil em todo o planeta. Era uma diversidade de filosofias, que satisfazia qualquer gosto. Axis, o desafiante dissera que o domínio territorial era seu, portanto Zeus (o Rei dos Deuses), teria que se submeter aos seus ditames.
Tudo preparado, Saraswati, Jati, Buda, Osiris, Durga, Laskmi e Vishnu (os juizes), leram as regras do embate, que teria como vencedor aquele que fizesse o maior bem à humanidade.
Zeus fora sorteado para começar a batalha. Em um movimento sutil com as mãos declarara: “Os homens seguirão o caminho da justiça e da PAZ. Cada um terá direito a escolher de acordo com suas convicções, suas crenças e seus Deuses, que trarão a clarividência e a luz de seus caminhos.O homem deverá viver em plenitude física, mental e espiritual, proporcionando a cada filho seu o fundamento supremo da virtude, do desfrute e da sabedoria.”
Axis olhava a multidão de Deuses com aprovação e sentia, naquele momento, que seria muito difícil derrotar Zeus. Com um gesto repentino professara: Rendo-me. Será impossível vencer esta batalha, não existe e nunca existirá justiça sem PAZ. Rendo-me a minha insignificância e ao meu orgulho, reconhecendo que na sabedoria de Zeus se encontra a verdade suprema.
Pela grande submissão da rendição, pela humildade e resignação, o embate fora declarado empatado. Ninguém perdera porque a humanidade ganhara. Quando se acreditava que tudo terminara em harmonia, aparece Zargone, o Deus da discórdia e da ostentação.
Chegando sorrateiramente, ele acrescenta: Bem, vocês acham que os seres humanos estão preparados para a PAZ? Não adianta pensar que o homem viverá em paz, porque ele possui a incômoda capacidade de pensar de uma forma egoísta. Os deuses colocarão suas palavras em livros, e estes livros serão lidos por sacerdotes que tentarão trazer à luz da consciência, a libertação. Então, o que foi criado para LIBERTAR poderá vir a ser usado para DOMINAR.
Acrescentarei às palavras de Zeus a existência das diferenças sociais… Durante milhares de anos os homens vão tentar seguir Zeus, mas logo esbarrarão nas considerações de Zargone. Após milhares de anos os homens ainda não compreenderam quase nada desta fábula fabulosa! E a consideração de Zargone, foi evidente e eficaz no aparecimento dos complexos de Édipo, das castas, das classes sociais e das religiões, na maioria das vezes envoltas em todos os tipos de verdades e mentiras. Tudo para tentar colocar a compreensão da vida dentro de um contexto.
Após as profecias de Zargone, o PODER entre os homens se torna evidente. A compreensão de que as diferenças, na maioria das vezes trazem consigo a submissão ou mesmo a escravatura, fizeram com que o bom senso cedesse lugar à idolatria, seja a líderes diabólicos ou imagens de terracota. Precisamos voltar a convocar Zeus, Axis e Zargone para um novo embate. Só que desta vez com a missão de criar regras sem vencedores. Unir os povos fazendo com que uma grande cooperativa integre as crenças e filosofias, acabando com a miséria e a indigência? essa seria a tarefa.
Que este embate traga à mente a confissão e a humildade, que antes de pensar em si mesmo, o ser humano dominador possa pensar em continuar perpetuando a espécie, com o requinte da criação. Não queremos deuses em divergência, nem mesmo para o bem. Queremos a convergência para a vida e a idéia de que o ser humano veio ao mundo como imagem e semelhança de algo chamado perfeição.
Até a próxima

*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.