Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Apesar do pensamento contemporâneo e da desmistificação da sexualidade como um prazer saudável, é difícil encontrar alguém que realmente perceba o sexo como uma atividade que faz parte da vida, e que traz além de uma satisfação, um autoconhecimento. Este conhecimento da corporalidade e da sensualidade ainda é de difícil assimilação existindo em muitas pessoas uma dificuldade de falar sobre sexo, de planejar, de assumir que a relação humana passa pela sexualidade como uma identidade pessoal. E essa dificuldade existe, porque sexo ainda é vítima de muitos dogmas religiosos (que sempre usaram a “tentação” como diabólica), preconceito e medos.
Em muitos casos, aquela pessoa mais desprendida que comenta e que assume que gosta de sexo, principalmente se for do sexo feminino, pode fazer a pessoa se sentir promíscua, leviana, culpada. E assumir perante outras pessoas, é mais complicado ainda, pelo medo dos julgamentos, perder o respeito, ser desvalorizada. As atitudes rotineiras que muitas vezes significam a sobrevivência através do trabalho, fazem com que haja uma dispersão e uma desfocalização do indivíduo para a sua sexualidade. É muito comum o casal, depois de um dia de trabalho extenuante, se render a um programa de televisão ou a um sono reparador, sem pensar na importância da atitude sexual dentro do romantismo pessoal.
E isso traz consequências no futuro, como a depressão e a insatisfação com o próprio casamento, que precisam continuamente ser administradas pelos dois. Mas para isso, a atitude sexual vai ter que ser pensada e considerada como uma questão de prazer indispensável pelo casal, assim como é indispensável o desejo mútuo. Para que isso aconteça, é necessário que reservemos em nossa agenda diária um espaço para a sexualidade, assim como encontramos espaço para o trabalho e para o estudo. Pensar que fazer sexo é gostoso e que transcende o ser humano a entender a própria evolução da humanidade, é um bom exercício a ser praticado. É preciso perceber os pensamentos e emoções que existem em relação ao sexo para também entender as atitudes frente a ele. Quando existe alguma ação que está interferindo no relacionamento sexual, como uma disfunção erétil ou dispaurenia (dor durante o coito), esta deverá ser tratada como uma possível causa da dificuldade do casal perante o sexo. Achar um culpado para esta situação, deve ser sempre considerado.
Às vezes a falta de privacidade pela presença de filhos ou mesmo por dividir a casa com os pais, será sempre imputada como a culpada pela abstinência sexual. Antes de tudo precisamos refletir que para um relacionamento satisfatório, é preciso namorar, ter tempo de trocar alguns carinhos, carícias, olhares, palavras, que estimulem as fantasias um do outro, ou seja, que preparem um ao outro, excitem, para então partir para a consumação. Não devemos esquecer que cada um tem sua maneira de expressar sexualmente, sem comparações com o comportamento dos outros ou receitas de prazer mirabolantes. O sexo pode ser demorado ou rápido que poderá satisfazer, mas terá que ser dentro de uma história muito excitante e que sirva para atingir o prazer. Afinal de contas o prazer é muito pessoal e intransferível. A cada instante devemos avaliar o que devemos mudar para melhorar a relação afetiva. Esta mudança vai desde um elogio até mesmo um toque diferente no visual. É importante que nos cuidemos para que possamos ser notados. Uma roupa bonita, um perfume ou mesmo uma nova rotina traçada poderá ajudar muito a quem quer continuar juntos. Vamos aproveitar o agora para recomeçarmos a vida pois, lembrem-se que os momentos que deixamos de viver não voltam atrás.
Até a próxima
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.