Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
O chimarrão é montado com erva-mate (Ílex paraguaiensis), geralmente servido quente de uma infusão. Tem gosto que mistura o adstringente e o amargo, dependendo da qualidade da erva-mate, que, pronta para o uso, consiste em folhas e ramos finos (menos de 1,5 mm), secos e triturados, passados em peneira grossa, de cor verde, havendo uma grande variedade de tipos, uns mais finos outros mais encorpados, vendidos a diversos preços.
Segundo a medicina indiana (ayurvédica) os alimentos que possuem o sabor amargo e adstringente, são excelentes para reduzir as gorduras e também atuam como desintoxicantes. Todos sabem do poder do boldo nas intoxicações do fígado pelos excessos cometidos, desta forma a sabor amargo atua limpando o organismo de impurezas, revitalizando as células. Os chás levemente amargos são excelentes para a saúde.
Para se usar o chimarrão da maneira tradicional, é utilizado um aparato fundamental que é a cuia, vasilha feita do fruto da cuieira, que pode ser simples ou mesmo ricamente lavrada e ornada em ouro, prata e outros metais, com a largura de uma boa caneca e a altura de um copo fundo, no formato de um seio de mulher. Há quem tome chimarrão em outros recipientes, mas a prática é geralmente mal vista. O outro talher indispensável é a bomba ou bombilha, um canudo de cerca de 6 a 9 milímetros de diâmetro, normalmente feito em prata lavrada.
No sul do país o chimarrão tem uma função social e cultural muito interessante, pois reune pessoas diariamente para tomar o chá e aproveitar para integrar um bom papo. Por isso O chimarrão serve como “bebida comunitária”, apesar de alguns aficionados o tomarem durante todo o dia, mesmo a sós. Embora seja cotidiano o consumo doméstico, principalmente quando a família se reúne, é quase obrigatório quando chegam visitas ou hóspedes. Então assume-se um ar mais cerimonial, embora sem os rigores de cerimônias como a do chá japonês.
Bem, há mais razões para se apreciar a bebida típica dos sulistas, além do fato de manter as tradições: o chimarrão pode reduzir os níveis de colesterol ruim (LDL), segundo estudo do Instituto de Cardiologia do RS. Apresentada neste mês no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado (Socergs), a pesquisa indica que, sorvida com freqüência, a bebida é mais eficaz na redução do colesterol do que o chá verde. Para tirar as conclusões, foi realizado um estudo onde se avaliou 210 pacientes com dislipidemia – problemas com o colesterol ou triglicérides – e com sobrepeso, e idades entre 35 e 60 anos.
O estudo foi realizado com a utilização do chá de chimarrão (Ílex paraguaiensis) juntamente com o uso do chá verde (Camélia sinensis) e o chá de maçã. Os pesquisadores constataram que aqueles que tomaram um litro de mate (chimarrão) diariamente por oito semanas tiveram o colesterol LDL. Por outro lado, quem bebeu chá verde ou chá de maçã não apresentou redução no índice. Além disso, os participantes que consumiram chimarrão perderam, em média, meio quilo no período. A ingestão de chimarrão melhora o perfil lipídico e reduz o peso corporal de indivíduos com dislipidemia não tratada e também do excesso de peso. Esta pesquisa revela que, com a redução do colesterol, também se reduzem os riscos de doenças cardiovasculares, mas o chimarrão não deve ser visto como um remédio.
Uma pessoa que toma chimarrão por hábito pode estar incrementando um valor a mais de redução de risco de doenças, assim como faz quando tem uma alimentação adequada e pratica exercícios regularmente. A redução média de colesterol com exercícios e alimentação adequada é de 9%, e esse índice pode chegar a 30% com uso do chá. Vale a pena ressaltar que em quase todos os estados brasileiros encontramos em supermercados de grande porte, o mate para ser usado no chimarrão. Para quem gosta de aderir aos bons hábitos, vai aí esta dica.
Bom final de semana e até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.