Dr. Carlos Eduardo Guimarães

O preço da fama

Dr. Carlos Eduardo Guimarães*

É muito comum passarmos pela rua e vermos pessoas passeando calmamente, outras passeando com cachorros ou com a gaiola de passarinho na mão, com um ar de descontração invejável. Outras pessoas estão dirigindo seus negócios de uma forma condizente. Mas afinal de contas… quem é mais feliz, o bom vivant ou o esforçado?
Neste momento em que nos debatemos com uma situação envolvendo a má distribuição de renda fica uma questão: A felicidade do ser humano está relacionada ao dinheiro ou com a filosofia de vida? Na realidade os dois aspectos podem ser felizes.
O mundo ocidental, em sua grande maioria vive de superficialismos, acreditando que o modelo consumista seja o ideal, e dentro dele a palavra de ordem é TER. Esta é mais uma ilusão que a mídia encomendada passa ao público. Alguns escritores médicos, psicólogos, aproveitam este tema para vender surradas e ultrapassadas idéias ensinando como conseguir o poder e o sucesso, através de técnicas bisonhas . Na maioria das vezes sem conhecimento da complexidade do ser humano, acreditam que as pessoas são todas iguais, e induzem fórmulas mágicas sem nenhuma consistência, induzindo a procura do poder e do sucesso. Assim o pobre mundo globalizado vai arrebanhando ovelhas que vão seguindo ao acaso, as regras dominadoras que vendem sempre a imagem do superficial. Alguém, antes de querer ser poder e o sucesso deveria procurar entender a diferença entre prazer e felicidade. Felicidade poderia ser definido como sendo um sentimento duradouro de harmonia, paz e emoções bem ajustadas, levando o ser humano a um estado de esplendor e plenitude. Prazer seria uma sensação, às vezes fugaz, perene de bem estar que em algumas situações pode desencadear reações extremas, inclusive a depressão . Antes de querer ser alguma representação social importante, é de suma importância a análise de como o poder pode deturpar a vida que antes sincera, simples e tranquila cede lugar à angústia. É preciso conhecer os limites, e saber que se sairmos fora dele, fatalmente seremos seres ricos e abastados, mas estressados e deprimidos. Cada um tem uma velocidade de ação, e é através dela que deveríamos buscar desenvolver nossos talentos. Não adianta querer correr 100 km por hora se nosso limite é de 20 km. Todos os seres humanos são iguais perante direitos éticos e jurídicos, mas através da busca irracional da condição de ser sucesso, passam a ser reféns da volúpia. Deste ângulo, vamos encontrar pessoas que apesar de pobres, são convictas de suas crenças e filosofias e não precisam trilhar o caminho do sucesso , porque elas têm o alimento dogmático. Por outro lado a liberdade usada sem humanismo, pode significar a prisão. Para quem nunca pensou , pobreza deveria ser de responsabilidade daqueles que são o sucesso. Por que o sucesso descrito pelos editores de livros do gênero não se voltam para o humanismo e sim para o poder individual arrebatador ? A cooperação deveria ser o objetivo da sociedade. Uma sociedade cooperadora fatalmente viveria longe do maior terrorista: a miséria.
Nesta sociedade onde o dinheiro aparece como um identificador de sucesso, a aparência e a futilidade podem estar escondendo atrás do semblante, a dor da angústia e ansiedade. Os comprimidos anti-depressivos não poderão ser resolução da depressão, que advém na maioria das vezes do processo das atitudes diárias. Antes de criarmos a ideia do sucesso, deveríamos procurar desvendar se estamos aptos à ele. O conhecimento da vida, talvez seja o melhor indicador das atitudes que precisamos ter para sermos felizes. Poder sempre vem acompanhado de uma triste relação de restrições, já pensou nisso? O mundo precisa de desenvolvimento, mas sem volúpia e desespero. O preço da fama e poder podem fazer com tenhamos dívidas para o resto da vida.
Até a próxima.

*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.