Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
O modismo onde existem as práticas invasivas pode custar caro. Tatuagens, piercings e a de colocação de objetos perfurantes na língua, nariz, orelhas e outras partes do corpo, parecem atrair a atenção do público jovem. Muitas vezes como ato de autoritarismo, a manipulação do próprio corpo da maneira que bem entende, sem se preocupar com as intervenções alheias, dá ao jovem uma sensação de libertação.
As conseqüências das atitudes desse tipo, são os riscos que estas pessoas correm e nem têm ideia da sua gravidade.
Recentemente em São Paulo a estudante mineira Renata Schaefer passou por oito cirurgias e ficou afastada por dois meses. A razão? Um piercing na orelha esquerda. Renata teve uma pericondrite, forma agressiva de infecção da cartilagem. Pouca gente sabe, mas 15% dos jovens que utilizam o adereço procuram um serviço de saúde porque não aguentam a dor, o inchaço ou a febre. Um número equivalente relata complicações, mas não procura ajuda. Inflamação, sangramentos e infecção são os problemas mais comuns.
Renata pertence ao porcentual dos que precisam ficar internados para tratamento: cerca de 1%. Os riscos de infecção por manuseio de profissionais sem conhecimento de infectologia, trabalhando sem conhecimento de técnicas de assepsia e também o desconhecimento do tipo de material (que na maioria das vezes não é estéril) ou mesmo devido à reação alérgica do organismo ao material colocado no corpo, são muito maiores que pensamos. Estes adornos podem levar o indivíduo a processos de infecção generalizados, podendo até levar à morte.
Os dados são de uma pesquisa publicada no British Medical Journal em junho. Foram entrevistados mais de mil ingleses que usam ou já usaram piercing. Não há levantamentos semelhantes no Brasil, mas acredita-se que os dados no País são parecidos com os dados vindos da Inglaterra. A região onde há mais complicações é a língua. Cerca de 50% das perfurações no local trazem inconvenientes. Em 24% dos casos, o episódio termina em um consultório médico.
A língua é um local com muitos vasos sanguíneos, por isso, defende-se bem de infecções, apesar de inchar bastante. Mas se uma colônia de bactérias resiste e entra na corrente sanguínea, pode causar complicações sérias como a endocardite bacteriana, infecção do tecido cardíaco e processos reumáticos. O risco motivou a criação, em São Paulo, de uma lei, que proíbe a colocação de piercings em menores, mesmo com a autorização dos pais. Mas é fácil encontrar lugares que fazem o procedimento em adolescentes.
Outra questão levantada é o aparecimento de quelóides nos locais de colocação dos piercings. Quelóide é uma hipertrofia celular que ocorre nas lesões cicatriciais de algumas regiões do corpo, ou seja, é uma cicatriz grossa, que parece uma gelatina endurecida na pele. Ele se caracteriza por ser uma cicatriz que se eleva acima do nível normal da pele. O formato costuma ser irregular, e a lesão tem a tendência de aumentar progressivamente com o passar do tempo.
Ao contrário das cicatrizes normais, o quelóide não diminui de espessura. Normalmente, quando a pele é lesada por qualquer agente, o processo de cicatrização ocorre deixando uma cicatriz plana. A maioria dos quelóides aparece depois de machucados ou cirurgias e também após a colocação de piercings. O que geralmente acontece é que após algum tempo, o indivíduo “enjoa” do modismo e retira o piercing, deixando no local as marcas da invasão.
O que gostaríamos de levantar é a questão: Até onde o modismo pode levar o indivíduo a lesar sua saúde, principalmente por não ter conhecimento suficiente sobre os profissionais colocadores de piercing que estão se oferecendo nos jornais e revistas de uma forma avassaladora. Se você fizer opção por colocar um piercing, pense nisso: Cuidado com a escolha dos profissionais que se oferecem, pois, este modismo poderá custar muito caro a sua saúde e até mesmo sua vida.
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.