Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Você já ouviu falar em ?síndrome de Otelo?? Otelo é nome de uma obra do conhecido escritor Inglês, William Shakespeare, que descreve o romance em que o mouro de Veneza se torna apaixonado e cego de ciúmes por Desdêmona. Em uma atitude passional, estrangula sua amada, desesperado pela desconfiança de ter sido traído. Depois do assassinato, crava o punhal no próprio peito.
A mulher, porém, não cometera adultério. Otelo teve o ciúme como motivo para a atitude cruel. Este clássico da literatura mundial revela um fato que frequentemente acontece no dia-a-dia da sociedade atual: O ciúme atuando como perturbador do equilíbrio emocional. Este sentimento poderá também existir de forma consciente e recebido com equilíbrio por ambas as partes, buscando de forma inconsciente o fortalecimento da relação. É possível entender o ciúme como uma manifestação do ser humano, tão normal quanto a raiva, o medo ou a inveja.
Mas existem pessoas que têm ciúme doentio, capaz de criar fantasias e situações completamente absurdas.
Constantemente abrimos os noticiários de jornais e revistas e nos espantamos com a grande violência que assola a vida de muitos casais devido a ?pulsões? de ciúmes. Na grande maioria dos casos, nos deparamos com reações agressivas que revelam um ciúme patológico, que acomete indivíduos com distúrbios da personalidade ou mesmo como sintoma de algum quadro psicótico. Na grande maioria, sentir ciúme pela pessoa amada vem revelar um passado de conflitos.
Desde o nascimento o ser humano está submetido a forças e tensões que surgem de necessidades primitivas, como fome, sede, frio e necessidades fisiológicas. Depois surge a necessidade de ser reconhecido, receber atenção, sentir-se incluído e querido.
Um exemplo claro aparece quando a criança revela de forma explícita o conflito existencial quando acontece o nascimento do irmão. Isto faz explodir o sentimento de ter sido traído pelos pais, surgindo daí indignação, dor, raiva e insegurança.
Sabemos que temos uma ?eterna? criança que vive dentro de nós. Ela sempre aparece, seja nas brincadeiras com os filhos ou mesmo torcendo desesperadamente pelo time de futebol. Esta criança poderá se manifestar quando sentimos que poderemos perder a estabilidade da relação com alguém que amamos.
O ciúme expressa o desejo de controlar e possuir unicamente para si a pessoa que se quer bem. Nasce de uma demanda de exclusividade, do desejo de ser tudo para alguém, da situação de não suportar dividir a atenção da pessoa amada com mais ninguém. Existem pessoas que acreditam que o ciúme é uma ?prova? de amor. Em alguns conceitos, é considerada uma contingência do afeto: aquele que não o desperta duvida da veracidade do sentimento do outro, como se fosse uma questão obrigatória.
Há pessoas que se empenham em chamar a atenção do parceiro e despertar seu interesse tentando deixá-lo enciumado. Tudo isso não passa de uma forma infantil e desprotegida de amar. As pessoas ciumentas precisam amadurecer seus sentimentos, principalmente o sentimento de exclusão, e criar dentro de si o dom criativo e singular da existência.
Quando na infância a pessoa se viu abandonada ou desprezada e não teve sustentação emocional, este sentimento poderá ficar ?congelado? aparecer em fases tardias da vida adulta. Desta forma a inveja e o ciúme podem aparecer como aqueles fantasmas que existiram quando criança e que até hoje põe em risco a soberania do indivíduo.
Como podemos trabalhar esta situação de ciúme? Através de um trabalho desenvolvido com psicólogos e psicanalistas poderemos compreender melhor as atitudes e comportamentos que geralmente vêm de um passado mal resolvido.
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.