Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Alegria, alegria!!! Vocês já perceberam como as propagandas de cerveja sempre focalizam a alegria e o envolvimento de homens com mulheres fatais? Colocaram a atriz Juliana Paes para ser “A BOA” na propaganda da cerveja Antárctica e o “Baixinho da Kaiser” como o Dom Juan dos botequins brasileiros.
Vocês já observaram nos bares (local teoricamente frequentado na maioria por homens) os cartazes publicitários afixados nas paredes, veiculando publicidade de cervejas? Parece mais propaganda da revista playboy.
Pois é, agora criaram a quarta-feira da bebedeira protagonizada pelo Zeca Pagodinho. Aliás, o Zeca Pagodinho adora aparecer ?na fita? como um alcoólatra, mesmo assim, sua imagem é idolatrada por muitos fãs do cantor (coisas de um país sem ídolos).
Para quem não observa, a bebida alcoólica é uma droga, tão nociva como a maconha e a cocaína. Acho engraçado algumas pessoas declararem contra a maconha e usar o uísque e a cachaça. No ocidente, o álcool é uma droga permitida e declinada como social. Pois é, na Índia se alguém for pego bêbado, vai preso, mas se fumar haxixe em praça pública, não acontece nada. Cada país com suas discrepâncias.
Sabendo da força da propaganda, ainda mais em um país de terceiro mundo, a Anvisa se prepara para coibir a veiculação de propagandas de bebidas.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou o propósito traçado pelo Ministério da Saúde, que é o de ter controle sobre a regulamentação dessas propagandas, sobretudo as de cerveja. Segundo o Ministro, ainda nesta semana ele deve participar de uma reunião com técnicos do governo para redefinir a estratégia de regulamentação da publicidade de bebidas alcoólicas. Os resultados foram exaltados em Diadema, na Grande São Paulo, na comemoração dos cinco anos da lei que restringe o funcionamento de bares após as 23 horas na cidade. Esta medida fez com que a criminalidade e as brigas de gangues diminuíssem sensivelmente.
Em Belo Horizonte, a proibição do comércio de bebidas alcoólicas nos dias de jogos no Mineirão reduziu a violência em 60%. Mesmo com as estatísticas evidenciando o despertar da violência precipitada pelo álcool, alguns dirigentes ainda advogam o comércio de bebidas alcoólicas no Mineirão. Os artistas que vivem dos cachês, mesmo sem participar da veracidade, se colocam publicamente em propagandas como se fossem adeptos aos produtos anunciados.
Muitos têm consciência sobre a influência da imagem que eles criam sobre os reclames, e recusam a aparição. Um bom exemplo é o nosso Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que nunca deixou veicular sua imagem em reclames de cigarros ou bebidas alcoólicas. A cachaça Pelé, famosa entre os colecionadores de cachaça, tem o valor emérito por ter sido recolhida em 1958, após a conquista do campeonato mundial da seleção brasileira na Suécia. Por ordem judicial que obedecia ao desejo do Pelé de não veicular sua imagem junto aos produtos nocivos à saúde, teve a cachaça recolhida do comércio. Aqueles que compraram, guardaram como relíquia.
A preocupação do Ministro é o grande perigo destas propagandas não mostrarem que o produto anunciado pode levar à dependência física e psíquica, principalmente para pessoas deprimidas, introspectivas ou com dificuldade de ajustamento social.
De forma ancestral, a bebida alcoólica se encontra estabelecida e incorporada dentro do padrão social e permissivo, portanto é aceita pela comunidade sem restrições. Mas o incentivo ufanista tem que ser coibido e, ao invés da incitação através das publicidades, deveríamos ter orientações e observações a fim de ajudar a quem precisa de se recuperar deste terrível vício, que é o alcoolismo.
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.