Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
A palavra “vegetariano” vem da palavra latina vegetus, isto é, “uma pessoa mental e fisicamente sadia”. O ‘vegetarianismo’ não implica apenas na abstenção do consumo de carne, mas também se alicerça numa linha de conduta filosófica e moral; ele não se restringe a seguir apenas um regime alimentar. Dentro das escrituras sagradas da cultura Indu, temos textos que definem o vegetarianismo como um compromisso ético com a vida em sua plena forma. A compaixão e a harmonia são dois atributos do vegetarianismo. Não se pode lograr saúde e harmonia em nenhum grau, enquanto provoquemos sofrimento a alguma forma de vida.
O vegetarianismo como filosofia, expressa um modo de vida pacífico que a pessoa exerce, dentro de um contexto de harmonia e paz com todas as criaturas e com o cosmos. Com fundamentos numa filosofia sadia, na ciência e no bom senso, esta prática alimentar está presente na civilização indiana desde os tempos mais remotos. Atualmente cientistas e nutrólogos consideram que um dos aspectos mais graves da alimentação carnívora, reside no fato da grande quantidade de hormônios e antibióticos que são ministrados aos animais para fazê-los engordar muito rapidamente, e que impregnam de forma residual na carne, sendo fatores predisponentes na formação de câncer e tumores, quando ingeridas pelo ser humano.
Diversas pesquisas mostram que os vegetarianos apresentam menor risco de doenças cardíacas, hipertensão, obesidade, diabetes, câncer, diverticulite, desordens intestinais, cálculos biliares e renais e osteoporose (Journal of the American Dietetic Association, nov/93).
As dietas vegetarianas têm sido empregadas com êxito no tratamento de diversas doenças, incluindo obesidade, artrite reumatóide e síndrome nefrótica. Outro agravante está contido na forma de se fazer churrascos, com carvão em brasa. Pesquisadores descobriram que estas carnes assadas em churrasqueiras são altamente cancerígenas. Um quilo de carne assada, por exemplo, contém tanto benzopireno quanto o fumo de 600 cigarros.
Por outro lado, há perigos de carência de certos nutrientes. O trabalho de dois ingleses, Burkitt e Trowell, põe em evidência que a carne é muito pobre em fibras vegetais (celulose). Essa carência manifesta-se, geralmente, sob a forma de prisão de ventre, enxaqueca e cansaço, além das chamadas “doenças da civilização”, como o câncer, a artrite, as doenças cardíacas etc. A carne vermelha, mesmo a mais magra, contém uma enorme quantidade de gordura, de má qualidade, pois é rica em gordura saturada, que causa um excesso de colesterol, o que gera doenças cardiovasculares, aproveitamento deficiente de cálcio, digestão difícil etc.
Além disso, é na gordura que o organismo armazena venenos químicos. Os franceses, por exemplo, que são os maiores consumidores de carne da Europa (112 kg de carne por ano por habitante), retêm também outro recorde, o de campeão em doenças do coração (41% das causas das mortes).
Quando relacionamos o consumo de carne com o desmatamento e com o aquecimento global, muitas pessoas parecem ficar sensibilizadas. Pois é, o gado é um dos maiores emissores de gases que comprometem a saúde do planeta. Se pararmos de consumir carne bovina e assim dizimar os rebanhos, o problema do efeito estufa estaria quase que totalmente resolvido!!! Há no mundo 1,5 bilhão de bois e vacas. Criamos 930 milhões de porcos, 1,7 bilhão de ovelhas e cabras, 1,4 bilhão de patos, gansos e perus, 170 milhões de búfalos. Somem todos eles e temos uma população de animais equivalente à humana dedicando sua vida a nos alimentar involuntariamente, é claro.
Diante de tanto malefício resultante da criação de animais para o abate, o vegetarianismo consegue hoje mais e mais adeptos em todo o mundo. Vários restaurantes em todas as cidades e recantos se ocupam ao atendimento dessa clientela. Uma nova consciência está sendo assumida por pessoas que realmente tem na experiência com o vegetarianismo, uma experiência com o espiritual. Todo mundo está tentando diferentes métodos para reduzir a pegada de carbono. Pense nisso: “Um dos jeitos mais fáceis de acabar com o aquecimento global é parar de comer carne”, disse Su Taylor, da Sociedade Vegetariana do Reino Unido.
Por tudo isso, você leitor, deve pensar bem se está desempenhando seu papel de cidadão, defendendo o meio ambiente e o bem estar social, se está de acordo com essa nova tendência que avança de forma a construir uma sociedade mais consciente. Ah, antes que eu esqueça, o Paul McCartney estará no Brasil para fazer shows, se tiver uma chance pergunte a ele por que ele não come carne.
Até a próxima
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.