Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Preconceito
Na minha opinião, o Romário, Zico, Reinaldo e Pelé, foram os maiores jogadores, os quais tive oportunidade de ver jogar. Só não faziam chover.
Entre todos eles, o baixinho, apelido dado ao Romário pela sua pequena estatura, teve sua trajetória marcada por gols espetaculares, coadunando atitudes pitorescas nas comemorações, quando assumia um papel de porta bandeira dos excluídos e estandarte da justiça social.
Nem sempre coerente, às vezes com uma falácia desajustada, foi marcado por declarações e análises controvertidas. Notavelmente vaidoso e declaradamente prepotente, na maioria das vezes via o mundo de uma janela pouco intelectual que necessitava de um colírio anti-embaçamento. Tirando isto, foi um gênio dos gramados. Quem gosta de futebol, gosta do Romário.
Estes últimos dias, ele foi homenageado com uma convocação para a seleção brasileira e se despediu dos gramados, com um gol com sua marca “genial”. Ao comemorar, exibiu uma camiseta com os dizeres: “Tenho uma filhinha Down que é uma princesinha”.
Eu que sempre repudiei aquelas manifestações impressas nas camisetas dos jogadores que, após fazer um gol, são exibidos em direção às câmeras de TV, misturando crença com a indigência cultural. Bem, como nada deve ser radicalizado, após marcar um belo gol, Romário despediu-se da seleção fazendo uma homenagem à uma pessoa portadora da síndrome de Down, que é exatamente sua filhinha. A forma com que ele se referiu à ela, foi de um carinho notável, revelando um amor incondicional.
Enquanto muitos pais, que têm filhos com alterações genéticas, por constrangimento ou por precaução escondem seus filhos do mundo, Romário fez o contrário. Assim Romário mostrou para todos que acompanharam sua despedida da seleção, que a exclusão, racismo ou qualquer forma de preconceito são atitudes que devem ser banidas. O que sobrou de bom na cena foi a demonstração de amor pela sua filha, que por ser “down” não perdeu lugar em seu coração.
Racismo
Dizem (em Caeté) que o “Chico Macaco” era melhor que o Pelé. Naquele tempo, não existia este profissionalismo capitalista e talvez fosse melhor ser operário metalúrgico, já que o futebol era praticado pelo amor à camisa e rendia muito pouco arroz e feijão na panela…
Acho interessante citar o saudoso Chico Macaco, que carregava este apelido com uma naturalidade incomum. Sem racismo ou preconceitos, foi ídolo de uma época de ouro do futebol em Caeté. Hoje, o futebol do primeiro mundo, principalmente na Espanha, Holanda e Inglaterra, dá demonstração de racismo por parte de torcedores, que atiram bananas ou fazem gestos que insinuam a presença de macacos, quando os jogadores negros “pegam a bola”. Olha que paradoxo: estes povos que adotam posturas racistas ainda exigem serem chamados de 1º mundo…
Bem, recentemente no Brasil, um jogo entre Quilmes da Argentina e São Paulo foi cenário de um fato lamentável. Após uma jogada polêmica, o jogador Desábato (argentino) ofendeu o jogador Grafiti (brasileiro), chamando-o de “macaco”. O fato ecoou longe, tendo sido noticiado pelos meios de comunicação internacionais.
Esta atitude custou uma detenção ao argentino e uma lição de que preconceito é uma atitude de mentes atrasadas e retrógradas como a dele. O povo argentino que sempre gostou de chamar os brasileiros de “macaquitos”, terá que engolir mais que uma banana, terá que engolir que o país dos macaquitos é o grande soberano e mais rico país da América do Sul. E esta soberania se dá pela fibra e pelo sangue do nosso povo, seja negro, branco ou qualquer cor. Assim diria o macaco Sócrates (Planeta dos Homens): Não precisa explicar… eu só queria entender….
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.