Dr. Carlos Eduardo Guimarães*
Odilon era um tipo de pessoa que você iria adorar. Ele sempre estava de alto astral e sempre tinha algo positivo para dizer. Quando alguém lhe perguntava: “Como vai você?”, ele respondia: “Melhor que isso, só dois disso!”
Então, um dia eu perguntei ao Odilon:
-Eu não acredito! Você não pode ser uma pessoa positiva o tempo todo… Como você consegue? E ele respondeu: Toda manhã eu acordo e digo a mim mesmo: Odilon, você tem duas escolhas hoje: escolher estar de alto astral ou escolher estar de baixo astral… Então, eu escolho estar de alto astral. A todo o momento acontece alguma coisa desagradável: eu posso escolher ser vítima da situação ou posso escolher aprender algo com isso. Eu escolho aprender algo com isso. Todo momento alguém vem reclamar da vida comigo: eu posso escolher aceitar a reclamação ou posso escolher apontar o lado positivo da vida para a pessoa. Eu escolho apontar o lado positivo da vida.
Alguns anos mais tarde eu ouvi dizer que Odilon havia feito algo que nunca se deve fazer quando se trata de residência: ele deixou a porta dos fundos aberta. Foi rendido por assaltantes armados. Em um determinado momento, os ladrões entraram em pânico, atiraram nele e fugiram.
Por sorte, Odilon foi encontrado caído e foi levado às pressas ao pronto-socorro. Depois de oito horas de cirurgia e algumas semanas de tratamento intensivo, Odilon foi liberado do hospital com alguns fragmentos de bala na perna e no ombro.
Encontrei com Odilon seis meses depois do acidente e perguntei: “Como vai você”? E ele respondeu: -Melhor que isso, só dois disso! Quer ver minhas cicatrizes?
Enquanto eu olhava as cicatrizes perguntei o que passou pela mente dele quando os ladrões invadiram sua casa.
-A primeira coisa que veio à minha cabeça foi que eu deveria ter trancado a porta dos fundos. Então, depois, quando eu estava baleado no chão, lembrei que eu tinha duas escolhas: eu podia escolher viver ou podia escolher morrer. Eu escolhi viver.
Então, perguntei: -Você não ficou com medo? Não perdeu os sentidos?
Odilon continuou:
-Os enfermeiros eram ótimos. Ficaram o tempo todo me dizendo que tudo iria dar certo, que tudo iria ficar bem. Mas, quando eles me levaram de maca para a sala de cirurgia e eu vi as expressões nos rostos dos médicos, eu fiquei com medo. Nos seus olhos eu lia: “Ele é um homem morto”. Eu sabia que tinha que fazer alguma coisa.
-O que você fez? – perguntei.
-Bem, havia uma enfermeira grande e forte me fazendo perguntas… Ela perguntou se eu era alérgico a alguma coisa: “Sim”, eu respondi. Os médicos e enfermeiras pararam imediatamente esperando por minha resposta… Eu respirei fundo e respondi: “Balas de revólver!”
Enquanto eles riam, eu disse: “Eu estou escolhendo viver. Me operem como se estivesse vivo, não morto”.
Odilon sobreviveu graças à habilidade dos médicos, mas também por causa de sua atitude espetacular.
Eu aprendi com ele que todos os dias temos que escolher viver a vida em sua plenitude, viver por completo. Atitude, entretanto, é tudo!
Até a próxima.
*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.