Dr. Carlos Eduardo Guimarães

Você é o Bandido ou o mocinho?

Dr. Carlos Eduardo Guimarães*

Eu sou viciado em cigarro. Sou fumante que não fuma há muitos anos, mas sou fumante…. Isso é igual quem já foi viciado em bebida alcoólica. Quem já bebeu muito e conseguiu parar de beber, será sempre considerado alcoolista, mesmo estando sem beber. É só dar o primeiro gole que volta ao vício.
O governo (ministério da Saúde) tem consciência dos malefícios do tabagismo e dos prejuízos que ele causa às empresas e aos cofres do SUS. O cigarro é um vício que tem mais mortos que qualquer casuística criminal. Mas as televisões continuam apresentando propagandas exibindo os mocinhos conquistadores com “ares” de superioridade, liberando baforadas de fumaça proveniente do tabaco, sempre ao lado de um carrão, barco e uma mulher bonita…. Após as propagandas, sempre vêm as advertências: O ministério da saúde adverte… as propagandas fazem mal à saúde…
Vez por outra, aparecem alguns movimentos anti-tabagismo. Dentre muitas propagandas alusivas ao anti-tabagismo surgiu uma muito interessante, que aponta o cigarro como sendo o bandido e o fumante como o mocinho. Infeliz quem idealizou o cartaz, jogando no cigarro toda a culpa do vício e dos malefícios. O cigarro é o menos culpado de tudo. O Tabaco é uma folha que o homem colhe, seca, põe alguns produtos químicos e fuma. Não tem nada de vilão. Assim o ser humano passa uma imagem de escolhido pelo cigarro para ser escravo do mesmo. Ora, o que o ser humano precisa é se conhecer melhor e ser dono de suas emoções.
Na maioria da vezes, o ser humano fuma porque vive em um clima de guerra com os outros e com ele mesmo. Estresse é a palavra do dia que vem acompanhado do desemprego, obesidade, feiura, inadaptação social, poucas vagas nas faculdades públicas etc. Quem não for bonito e esperto, tá fora da competição, não serve. Desta maneira, a mente não consegue se manter em um estado de tranquilidade, buscando sempre algum modo de sublimação. Mas a maioria das pessoas não consegue alcançar o sucesso e têm como consequência crises de ansiedade e depressão. Existem pessoas propensas à depressão e angústia, sendo estas as mais vulneráveis aos vícios.
Aquelas pessoas inseguras e sem senso crítico, são as mais atingidas pelos reclames publicitários. As propagandas são cada vez mais influenciadoras comportamentais, sendo sempre elaboradas com muito conhecimento de infiltração no subconsciente, provocando uma verdadeira lavagem cerebral.
O sistema capitalista vive da competição e isto desencadeia uma série de programas de vendas que tem como propósito o lucro. O que interessa é a venda do produto. Desta forma, somos invadidos todos os dias pela tela da TV que em momentos de diversão, a cada instante, sugere o que comer, o que beber, o que escutar ou qual bola é a da vez….
A angústia mora principalmente na falta de verdadeiros ídolos, já que são empurrados ao consumidor um monte de bobagens, que “pegam” devido ao poder ilusório da sugestão. Desta maneira, vamos vivendo de ilusão, e quando damos conta da realidade, passamos ver que o estresse e a angústia, são participantes enrustidos da vida. Desta maneira, gostaria de saber porque não proíbem as propagandas de cigarros e bebidas alcoólicas? Por que insistem tanto com propagandas de produtos que trazem malefícios à saúde? Até quando seremos manipulados pela inteligência maquiavélica?
Portanto, o menos culpado de tudo, é o cigarro, que não pula na boca de ninguém, não acende sozinho nem tão pouco nasce no quintal da casa de alguém.
Até a próxima.

*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.