Dr. Carlos Eduardo Guimarães

Você tem Nomofobia?

Dr. Carlos Eduardo Guimarães*

Você  algum dia já voltou para a casa assim que descobriu que havia esquecido o telefone celular em seu quarto?  Pois é, muitas pessoas quando se dão conta que esqueceram o celular em casa, não medem esforços e voltam a qualquer custo para buscá-lo, mesmo sabendo que mais tarde, que vão topar com a cara feia do chefe pelo atraso, ou com aborrecimento de pessoas que o esperam para algum compromisso que exija a pontualidade.
Por mais que pareça absurda, esta atitude é muito comum entre muitas pessoas. Essas pessoas não conseguem ficar sem o celular e se ficam se sentem angustiadas e não conseguem render nas atividades. Elas fazem parte de um grupo que sofre um distúrbio dos tempos modernos, a nomofobia, que vem se juntar às fobias mais conhecidas, como medo de altura ou de pânico.
Nomofobia é uma nova expressão usada para designar a sensação de angústia que surge quando alguém se sente impossibilitado de se comunicar, por estar em algum lugar sem seu aparelho celular. Trata-se de um termo recente originado do inglês “no-mobile”, que significa sem o telefone móvel ou celular. A pessoa que sofre de nomofobia não consegue se desprender da tecnologia e isso inclui aparelhos como: Celular, notebook, netbook e todo o aparato tecnológico que a deixa conectada com o mundo. Ela pode esquecer a carteira ao sair de casa, mas não os aparelhos. Além disso, não desgruda do celular, por exemplo, nem para ir ao banheiro, ao teatro, à academia ou mesmo na hora de fazer sexo. Em muitas situações eles preferem deixar de sair com amigos porque não quer abandonar o conforto de casa, pois lá eles têm as ferramentas, como o MSN, para conversar com eles sem o inconveniente de ter que enfrentar a vida lá fora.  Para ser caracterizada como fobia, a ausência desses tipos de aparelhos deve trazer prejuízo significante à vida, ou seja, causar sensação de pânico e impotência, atrapalhando a vida profissional e pessoal.
Quando as pessoas ficam dependentes desses aparelhos, elas passam a apresentar vários sinais ao perceber que eles não estão com eles, como taquicardia, suores frios, dor de cabeça e sensação de insegurança. O modernismo avança e cria com ele as doenças cibernéticas.  Uma grande parte dos seres humanos dos tempos modernos têm buscado a compensação de suas angústias e frustrações, se escorando nas telinhas dos computadores e também nos aparelhos celulares. Essa tecnologia que vem auxiliar e facilitar a vida das pessoas poderá ser a vilã na geração de muitos hábitos nocivos. A substituição do relacionamento natural feita através da relação virtual tem afastado sistematicamente o ser humano de sua natureza, que é a de se relacionar de alguma forma, seja trocando amor e afeto com alguém, ou mesmo com um simples e saudável bate-papo informal.
É evidente que a tecnologia e a popularização da internet trazem benefícios inegáveis de ordem econômica e cultural para todo o mundo. Mas essas inovações também imprimem mudanças nas relações interpessoais, que devem ser bem observadas. Quando uma pessoa transforma a vida por causa da tecnologia, ela precisa de ajuda, pois está deixando conviver com amigos, interagir com a família e ter atividades sociais. Isto vai construindo uma personalidade atípica que em um futuro bem próximo sofrerá de algum problema psíquico, podendo em casos extremos se sentir tão desamparado que poderá levar o indivíduo ao suicídio. Por isso, temos que orientar os filhos e as pessoas que vivem ao nosso redor, os perigos do exagerado apego aos aparelhos modernos. 
Este é o preço da evolução que corre desenfreadamente. Por isso, pensamos que a sociedade precisa ser reorientada e que haja um elo de ligação entre as pessoas que estão cada vez ,mais consumistas e isoladas . A conscientização da compulsão de aquisição de bens e da adoção de uma visão humanista cria um clima de responsabilidade pela vida, e também dos cuidados com tudo o que nos cerca . Uma delas é a racionalização do ser humano e suas responsabilidades com a vida, inclusive da sustentabilidade. Se deixarmos de sermos “humanóides” e olharmos com simplicidade o mundo, teremos uma sociedade mais sadia e menos dependentes à penduricalhos eletrônicos. Mas para isso, torna-se necessário desenvolver uma visão crítica que somente será atuante quando deixarmos a individualidade de lado e passarmos a ter um olhar que exime as diferenças. Por isso, acredito que para construirmos um mundo sem o aprisionamento dos vícios e mais humanizado, teremos que contar com  consciência de todos. 
Até a próxima. 

*Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), de 1997 a 2017, quando o jornal deixou de cirular impresso.