Desejo Proibido

Uma crônica dos anos 30

Tendo como pano de fundo o Triângulo Mineiro dos anos 30, Passaperto é cidade pequena, mas não necessariamente pacata, onde personagens-chave vão se deparar com desejos proibidos e escolhas muito difíceis.

Assim é com a estudante Laura (Fernanda Vasconcellos), o padre Miguel (Murilo Rosa), o playboy Henrique (Daniel de Oliveira), a mestiça Ana (Letícia Sabatella), o fazendeiro Chico Fernandes (José de Abreu), o médico Escobar (Alexandre Borges) e a matriarca Cândida (Eva Wilma). Personagens cujos destinos se entrelaçam, em um universo de amor, ódio, religiosidade, ambição, tristezas e alegrias na trama de Desejo Proibido.

Quem dá o tom da história é Walther Negrão, que se apresenta como ?escritor, pecuarista e médium psicofônico?: ?Mineiro não é só definição de alguém que nasce e vive nas Gerais. Mineiro é antes de tudo um estado de espírito?. Comandada pelo diretor de núcleo Marcos Paulo e pelo diretor geral Luiz Henrique Rios, Desejo Proibido estréia no dia 05 de novembro, depois de Malhação.
O poder da matriarca

A família da matriarca Cândida (Eva Wilma) foi a maior proprietária de terras com produção de café da região da pequena cidade de Passaperto, em Minas Gerais. Terras que cresceram com casamentos de conveniência, que uniam nomes e alqueires. Começando pelo da própria Cândida, que se casou com João Altino, dono de uma das maiores parcelas de terras produtoras de café do Triângulo Mineiro.

Tudo começou a mudar quando, já no período de declínio do ciclo histórico da cafeicultura, uma forte geada atingiu as plantações da propriedade. Sem alternativas e recursos, a família se viu obrigada a vender parte das terras para Chico Fernandes (José de Abreu), que trocou o café por pastagem para o gado. Acostumada a não perder nunca e disposta a recuperar os bens e a honra da família, Cândida deu a mão de sua única filha, Isabel, em casamento para o coronel Chico.

Da união dos dois nasceu Henrique (Gabriel Kaufmann/ Daniel de Oliveira), que mal chegou a conhecer a mãe. Isabel morreu alguns meses após o parto, vítima de uma febre devastadora. Pouco tempo depois da morte da esposa, Chico Fernandes se casou com Ana (Letícia Sabatella), a linda filha da índia Iraci (Thais Garayp), empregada da casa. Cândida considerou inconcebível a atitude do genro, que não só ousou se casar novamente, como escolheu uma ?bugrinha?. Com o orgulho ferido e suas posses ameaçadas, a matriarca impõe uma escolha a Chico: Ana ou Henrique, seu filho com Isabel.

Louco de paixão, o fazendeiro opta por Ana e perde o direito de ser pai. Henrique cresce tendo como única referência a sua avó, uma mulher amarga e ambiciosa. Essa influência o torna um jovem frio e calculista, além de ganancioso. Ele não hesita um segundo sequer quando decide cobiçar Ana, a esposa do seu próprio pai.

O primeiro milagre

O casamento com Chico que parecia ser um conto de fadas se transforma em um pesadelo para Ana. Chico Fernandes se revela extremamente ciumento, prendendo-a em casa e proibindo o contato com estranhos. Para aumentar o seu drama, Ana se sente culpada por tê-lo separado de Henrique e por não conseguir ter filhos. Isso aumenta a sua tristeza e lhe traz momentos de intensa depressão.

Depois de perder mais um bebê nos braços da parteira Sebastiana (Laura Cardoso), Ana vai com sua mãe até uma gruta localizada na fazenda e se dirige à imagem de uma santa, misteriosamente esculpida nas paredes pelas águas do rio Itareré e, por isso, conhecida pelos locais como a Virgem de Pedra. Muito devota da santa, Ana implora por um filho.
Uma trovoada prenuncia mudanças no tempo e acelera a volta de Ana e Iraci para casa. Quando caminham pela beira do rio, Ana nota um objeto preso a uma de suas margens. As duas se aproximam e percebem que se trata de um cestinho, com alguma coisa dentro. Para surpresa de Ana, dentro do cesto, aparentemente inerte, repousa uma menina recém-nascida. Ana a toma em seus braços e corre de volta para a gruta. Desesperada, ergue a criança diante da imagem da santa e implora por um milagre: o sopro da vida. Um choro de bebê ecoa pela caverna. É Laura, o primeiro milagre da Virgem de Pedra e uma nova razão de viver e ser feliz para Ana.

Laura é prometida a Henrique

Cândida mal pode acreditar em mais esse golpe. Depois de ver o lugar de sua filha ocupado por uma simples ?bugrinha?, agora tem que suportar o fato de a herança de seu neto ser dividida com a ?filha torta? de Chico. Já que a matriarca não tem como mudar esta situação, a saída que encontra para reunificar as terras das duas fazendas e manter o patrimônio em família é armar o casamento de Henrique e Laura. Com o argumento de que os dois não têm laço de sangue e sequer foram criados na mesma casa, convence Chico Fernandes, um homem cheio de culpa, a aceitar a proposta.

Ana nunca concordou com a união e, por isso, tratou de mandar a filha estudar em um internato de freiras, em São Paulo. Sempre intransigente, Cândida combina com Chico que os dois jovens ficarão noivos e se casarão assim que Laura acabar os estudos e retornar definitivamente para Passaperto.

Namoro de verão ou casamento?

O acordo parece caminhar conforme o planejado. Nas últimas férias de verão antes de sua formatura, Henrique, que passou o ano inteiro escrevendo cartas apaixonadas para Laura, vai até o internato em São Paulo buscá-la. A estudante se despede das amigas e parte com ele para a estação de trem.

Quando localiza sua poltrona, Laura percebe que ela está ocupada por um rapaz, que dorme profundamente. Ao mesmo tempo em que tenta acordá-lo, coloca seus pertences no bagageiro. Com o início do movimento do trem, sua caixa de chapéu despenca em cima de Miguel (Murilo Rosa), que acorda assustado. Uma intensa troca de olhares acontece entre os dois e, como se tentassem fugir de algo, eles quebram a magia do momento com uma súbita agressividade. Ela o acha desclassificado. Ele vê uma menina mimada. Um novo solavanco do trem e, desta vez, é Laura que cai justamente no colo do rapaz.

Henrique chega e, sem entender o que se passa, quase torna a confusão ainda maior. Laura examina as passagens e, vitoriosa, anuncia ao rapaz que ele se enganou de assento. Miguel sai bufando para o seu vagão e o casal se acomoda em suas confortáveis poltronas. O momento parece perfeito para Henrique reafirmar o namoro iniciado por meio de cartas. Mas o que ele nem imagina é que o encontro de Laura e Miguel, há poucos instantes, naquele mesmo trem, pode mudar para sempre o futuro de seu relacionamento.

O forasteiro

Laura é recebida em clima de festa, com direito a uma banda de música e à ilustríssima presença do prefeito Viriato (Lima Duarte), que lhe dá as boas-vindas e entrega a chave da cidade. Mas, durante a recepção, a chegada de Miguel, completamente desconhecido na cidade, gera um verdadeiro tititi entre as moçoilas de Passaperto, despertando especial interesse em Florinda (Grazi Massafera), a filha do prefeito, sempre em busca de um ?bom partido?.

O ilustre forasteiro vai até a paróquia de padre Inácio (Marcos Caruso), que fica esfuziante ao reencontrar Miguel. O seu afilhado é um jovem padre que, por seu conhecimento científico e espírito inquieto, foi designado pela igreja para estudar a autenticidade dos milagres atribuídos à Virgem de Pedra. Quem o designou para a missão foi Frei Domingos (Sérgio Mamberti), confessor e grande amigo, que também tem uma justificativa pessoal para tanto: Miguel vem passando por um momento de questionamento de sua vocação e Frei Domingos acredita que um tempo afastado de suas funções possa ajudá-lo a refletir e tomar uma decisão. Assim, sem batina, Miguel chega a Passaperto para conduzir sem pressão as investigações, em busca da verdade sobre a Virgem de Pedra e do seu próprio destino.

Dadas as boas-vindas, padre Inácio, o único na cidade que sabe da verdadeira identidade de Miguel, conta que à noite terá um baile para a comemoração da chegada de Laurinha. Miguel avisa que prefere manter distância da festa, pois já conheceu a moça e a achou mimada e cheia de ?não me toques?. O padrinho, então, lhe faz uma grande revelação: ?Laura é a moça do milagre, a criança que, segundo dizem, foi salva da morte por intervenção da Virgem de Pedra. Você vai ter que se dar bem com ela ou jamais conseguirá cumprir sua missão.?

Depois de um longo dia de viagem e muitas surpresas, Miguel vai espairecer em um banho de cachoeira. Laura tem a mesma idéia. Os dois voltam a se encontrar dentro d?água. Irritada com a surpresa, a jovem manda que ele cubra os olhos com as mãos enquanto sai da cachoeira. Laura aproveita o momento para pregar uma peça em Miguel e atira as roupas do forasteiro na água.

O conturbado baile de boas-vindas

Preocupado com a sua missão, Miguel decide ir ao baile em homenagem à Laura no Clube Recreativo Passapertense. A festa reúne as figuras mais ilustres da cidade, como o prefeito Viriato, que comparece com a sua esposa e as duas filhas; o delegado Trajano (Cássio Gabus Mendes), que, por ser viúvo há mais de dez anos, conta com a ajuda de seu braço direito, soldado Brasil (Nando Cunha), para ?zelar pela integridade? de suas três filhas; e o barbeiro e fotógrafo Dioclécio (Roberto Bomfim), que registra todos os acontecimentos da noite.

No clube, Miguel é abordado por Laura, que o provoca e questiona sobre suas habilidades para a dança. O afilhado do padre entra no jogo e, ao som de um tango, prova que sabe conduzir uma dama como ninguém. Em poucos instantes, se abre uma clareira entre os convidados. Todos observam os passos ousados do casal, que demonstra uma completa sintonia, como se fossem velhos parceiros. Fica evidente a forte atração entre Laura e Miguel, que, pela primeira vez em muitos anos, teve uma mulher nos braços.

Henrique, que discutia com o prefeito o projeto de construção de uma ferrovia em Passaperto, demora a perceber que a namorada está nos braços de outro. Imediatamente, faz um sinal para a banda encerrar a música. Com o abrupto silêncio, a leveza dos passos de tango dá lugar ao gesto brusco de Henrique, que puxa Laura, afastando-a de Miguel.

Ana, tentando colocar ?panos quentes?, tira o jovem padre para dançar. Mas o ciumento Chico Fernandes entra em cena e, alterado, a leva de volta para casa.

A paixão entre o médico e a ‘louca’

Chegando em casa, Chico tranca Ana no quarto. Cansada do comportamento brutal e obsessivo do marido, ela foge pela janela. Chorando muito, Ana é encontrada por Escobar (Alexandre Borges), seu médico. Desejo e compaixão se confundem e os dois se beijam.

O coronel contratara Escobar para viver dentro de sua casa e ajudar no tratamento da esposa quando ela teve uma crise de depressão profunda e chegou a ser rotulada de louca. O tratamento trouxe conforto para os seus problemas psicológicos, mas, aos poucos, o vínculo entre médico e paciente foi ultrapassando os limites terapêuticos.

Henrique jamais aprovou a presença do médico na fazenda. Quando entrou na adolescência, o enteado começou a mostrar um estranho desejo por Ana. Embora esse sentimento nunca tenha sido revelado, a madrasta notou a mudança no seu comportamento. E se Chico Fernandes, um homem rude e pai de Henrique, também percebesse? O medo de uma tragédia em família e a sua impotência para evitá-la só contribuíram para que o estado de Ana se agravasse ainda mais.

A chegada de Laura para uma temporada de férias de verão enche Ana de alegria e esperança, embora ela rejeite o namoro arranjado da filha com Henrique.

A chegada do trem

Cândida vem articulando a construção da extensão da estrada de ferro de Goiás, que, passando por Passaperto, beneficiaria diretamente o escoamento da produção de suas fazendas. Atendendo a uma convocação, o engenheiro Gaspar (Caio Junqueira) e o advogado Noronha (Guilherme Hernandez), da companhia ferroviária, vão até a cidade negociar a obra. De acordo com os estudos realizados, o traçado ideal para a ferrovia corta as terras de Chico Fernandes, mais precisamente o exato local onde fica a gruta da Virgem de Pedra.

Chico Fernandes fica diante de um grande dilema que, mais uma vez, coloca seu filho e sua esposa em posições antagônicas. Aprovar o projeto pode ajudar a impulsionar a carreira política de Henrique, que almeja a prefeitura, e aumentar os lucros das fazendas. Mas Ana não admite a hipótese da demolição da gruta que abriga a santa de sua devoção e ameaça partir para sempre, caso isso venha a acontecer.
O assunto também divide a cidade. Para os progressistas, o projeto da ferrovia deve prevalecer. Mas, para os religiosos ou aqueles que lucram com a visita dos romeiros, como Argemiro (Emílio Orciollo Neto), dono da venda da cidade, o santuário deve ser preservado a qualquer custo. Há ainda aqueles que preferem não tomar partido abertamente: é o caso do prefeito Viriato, que não quer se indispor com nenhuma das duas facções e perder muitos votos.

O falso milagre

Preocupados com a polêmica, o advogado Noronha e o engenheiro Gaspar tentam convencer a opinião pública e passam um telegrama para os jornais de Belo Horizonte alertando para o risco de a obra da ferrovia ficar só no papel por conta da revolta de fiéis contrariados com a demolição da gruta. Em uma das redações, o telegrama cai justamente nas mãos de Ciro Feijó (Rodrigo Lombardi), um jornalista sensacionalista, que acabara de ser demitido.

Ciro vislumbra no conteúdo da mensagem uma história promissora. O jornalista se une a Malaquias (Paulo César Rezende), um vigarista que se passa por cego para pedir dinheiro nas ruas de Belo Horizonte, e vai para Passaperto disposto a forjar um milagre da Virgem de Pedra. Os romeiros são convocados por ele para uma procissão até a gruta, onde o ?milagre? se concretiza: Malaquias, o cego, misteriosamente volta a enxergar. Laura, que é praticamente arrastada por Nezinho (Luiz Carlos Tourinho) para acompanhar o acontecimento, encontra o grupo de fiéis em êxtase, reverenciando a santa.

Miguel acha a história muito estranha e corre atrás de Malaquias para averiguar a veracidade do milagre. O suposto cego é ágil e consegue despistar o padre. Para Ciro Feijó, um dia de glória. De uma só tacada, ele recuperou o emprego, ficou famoso em Passaperto e, de quebra, conquistou a atenção de Florinda, a filha do prefeito, a quem se apresentara como correspondente dos maiores jornais do Brasil.

Texto de Letícia Eboli/Rede Globo

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