Falta de motivação, repetição monótona da realidade, situações de insatisfação. Eis a realidade de vários indivíduos. Pessoas que acordam de manhã sem nenhuma vontade, passam o dia (ao invés de viver o dia) e na manhã seguinte tudo se repete. Corre-se o risco de permanecer anos em estado de insatisfação, deixando insatisfeitos também todos ao redor.
É preciso ter coragem para mudar o que desagrada, apesar de toda mudança implicar em riscos e perdas, mesmo com os resultados positivos.
É nítido como as mudanças e a coragem para fazê-las acontecer são essenciais no desenvolvimento humano. Já nos mostravam os mitos, histórias e contos de fadas que são passados de geração a geração, desde os mais remotos tempos. Eles são verdadeiros retratos psíquicos da humanidade. Como disse Violet Oaklander, ?Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada enviam de inúmeras maneiras: que uma batalha contra as sérias dificuldades da vida é inevitável, constitui parte intrínseca da existência humana ? mas que se a pessoa não se intimida, se vai firmemente ao encontro das adversidades inesperadas e muitas vezes injustas, todos os obstáculos são vencidos e no final a pessoa emerge vitoriosa?.
Muitos contos terminam com o ?foram felizes para sempre?, e podemos entender que naquele determinado desafio contado pelo conto o obstáculo foi superado e virão outros novos pela frente. Contos, histórias, mitos, são para crianças e adultos. São arquetípicos ( arquétipos são formas nas quais o conteúdo é mutável de cultura para cultura. Por exemplo, o arquétipo materno, paterno, o arquétipo da cruz, etc. São padrões ou motivos universais)
Os contos, mitos, histórias, mostram que é preciso acreditar, ter esperança e seguir em frente. Saber que todo ser humano carrega em si o bem e o mal (ser humano perfeito só os iluminados, só Jesus…). É preciso aceitar essa realidade e buscar discernimento e coragem para transformar o que não for satisfatório. Aceitar as adversidades internas e externas e transforma-las, transcende-las. Desejar que elas não existam é imaturidade, é ilusão. Essa é a didática da vida para que nós possamos evoluir e aperfeiçoar. Os contos, etc, ensinam a não negarmos o mal em nós e sim aceitarmos e reconhecermos, para transforma-lo. Diz Jung que só se transforma o que se aceita.
Grande estudiosa sobre as histórias, mitos, contos, é Clarissa Pinkola Estés. Ela diz que as histórias são bálsamos medicinais. ?A cura para qualquer dano ou para resgatar algum impulso psíquico perdido está nas histórias. Elas suscitam interesse, tristeza, perguntas, anseios e compreensões. Nas histórias estão incrustadas instruções que nos orientam a respeito das complexidades da vida?. Ela explica que ?Às vezes várias camadas culturais superpostas desorganizam os esqueletos das histórias. Por exemplo, no caso dos irmãos Grimm (entre outros colecionadores de contos de fada dos últimos séculos), existe forte suspeita de que os informantes (os contadores de histórias) daquela época às vezes “purificavam” as histórias em consideração aos irmãos religiosos. Também suspeitamos de que os famosos irmãos tenham continuado a tradição de cobrir antigos símbolos pagãos com outros cristãos, de tal modo que uma velha curandeira num conto passava a ser uma bruxa perversa; um espírito transformava-se num anjo. Os elementos sexuais eram omitidos. “Existem porém boas novas. Apesar de todo o desmantelamento estrutural das versões existentes dos contos, um padrão definido e luminoso ainda transparece. Através dele podemos realizar reconstruções. Coletar histórias é uma atividade paleontológica.”
Enfim, não adianta o homem querer enxergar apenas o seu lado bom, pois todo ser humano carrega em si os dois mundos, luz e sombra. É preciso ter coragem para enxergar isso. É preciso ter coragem para mudar situações que precisam e podem ser mudadas. É preciso ter coragem para crescer. Os contos, histórias, mitos, espelham claramente essa realidade. Nosso papel é entender, aprender, e fazer por onde. Cada um tem que fazer sua parte para assim, superar os obstáculos, crescer, conquistar, evoluir, construir…
- Redação
- 18/02/2017
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