Alienação

Neste momento global em que presenciamos inúmeros desafios para que o ser humano vivencie de forma menos traumática possível o “estar no mundo” , o “construir sua história pessoal e coletiva”, nos ocorrem vários questionamentos e reflexões. Compartilho com você, caro leitor, interessantes pensamentos escritos no livro “Filosofando”, para que possamos continuar construindo nossa história de forma mais consciente e portanto mais promissora.
“Há vários sentidos para o conceito de alienação. Juridicamente, significa a perda do usufruto ou posse de um bem ou um direito pela venda, hipoteca etc. Nas esquinas vemos cartazes de marreteiros para os motoristas: “Compramos seu carro, mesmo alienado”. Em outro contexto, referimo-nos a alguém como “alienado mental”, querendo, com isso, dizer que tal pessoa é louca. A alienação religiosa aparece nos fenômenos da idolatria, quando um povo “constrói” ídolos e passa a se submeter a eles. Rousseau diz que a soberania do povo é inalienável, isto é, pertence ao povo que não deve outorgá-la a nenhum representante, mas deve ele próprio exercê-la. Na vida diária, chamamos alguém de alienado quando o percebemos desinteressado de assuntos considerados importantes, tais como questões políticas e sociais.
Em todos esses sentidos, há algo em comum: no sentido jurídico, perde-se a posse do bem; na loucura, perde-se a razão, e o louco perde o controle de si; na idolatria, perde-se a autonomia; na concepção de Rousseau, o povo não deve perder o poder; o homem comum alienado perde a compreensão do mundo em que vive e torna alheio à sua consciência um segmento importante da realidade em que se acha inserido.”
Alienar é portanto abrir mão do que está colocado. É não inserir, não mergulhar, não abarcar, não ver, não olhar. Nas reflexões do livro o capitalismo é citado como alienante, pois “determina a intensificação da procura do lucro e confina o operário à fábrica, retirando dele a posse do produto”.
Não há como negar a necessidade retirar a “cortina de fumaça” que encobre os nossos olhos de vermos os desafios profundos do mundo moderno. Não há como nos alienarmos, continuarmos alheios, a observar os pontos a serem melhorados, sem agir nesse sentido. Sempre existiram no mundo diferenças sociais, violências, coerções dos mais fortes contra os mais fracos. No entanto, com visão crítica, observações, análises, estudos sobre o que ocorre ao nosso redor, e atitudes coerentes com as conclusões a que chegamos, poderemos avançar satisfatoriamente na evolução dos acontecimentos. Visão crítica, advinda da vontade de perceber, eis o caminho para tantos impasses existentes nos dias de hoje…
*Aranha, Maria Lúcia de Arruda – “Filosofando – Introdução à Filosofia? – São Paulo, Moderna, 1986.