Doenças do Coração e a Hipermodernidade

Tema do livro “Quando o Mal Estar Social Adoece o Coração, O Infarto À Luz da Modernidade”, reflexões sobre o mundo moderno nos conduzem a uma visão mais consciente sobre as direções da vida nos dias atuais e suas consequências. Escritora e Psicóloga, em tal livro Suzana de Albuquerque Paiva nos direciona a pensamentos interessantes. Compartilho com você, leitor, um pouco desse vasto campo de pensamento, nas palavras da autora: “A hipermodernidade na vida do indivíduo lhe impõe a superação de si em todos os sentimentos e em todos os momentos. Até na hora da morte, o importante é superar-se, o importante é transcender a sua condição humana. É o que vemos acontecer com os pacientes coronarianos infartados, que sofrem com as demandas e expectativas excessivas, impostas pela sociedade e por eles próprios, de superar-se cada vez mais, de agir constantemente em acordo com sua concepção heróica. Uma das conseqüências dessas pressões, externas e internas é o adoecimento. É quando a hospitalização vem romper com esse desejo de corresponder a tantas demandas. Observamos que, nesse momento de impacto e quebra em suas trajetórias de vida, nesse momento específico da hospitalização, eles pressentem e reconhecem viver uma solidão existencial , condição típica dos heróis de todos os tempos, ligada a uma angústia profunda, agora mais exacerbada, diante da possibilidade mais concreta da morte, em função do infarto.” “Em pesquisa realizada sobre a urgência do tempo, Aubert (2003b) depara com o depoimento de um executivo que diz que anda a duzentos por hora para impedir que a morte o alcance”.
Ao refletir sobre as mutações econômicas, tecnológicas, sociais e culturais da segunda metade do século XX, Aubert (2006) constata certas questões que conduziram à emergência de um novo tipo de indivíduo, cuja maneira de ser, de fazer e de sentir difere profundamente da de seus predecessores. Cita como exemplo as descobertas científicas, a globalização da economia e a flexibilidade generalizada, com suas exigências de desempenho, além da revolução proveniente das tecnologias de comunicação, que desempenham um papel essencial para o surgimento desse novo indivíduo. De que forma essas transformações afetam o homem em sua identidade mais profunda, em sua maneira de vivenciar os sentimentos, em sua relação com o tempo, com os corpos e com os outros, assim como as patologias que o afetam, foi o que questionou durante um colóquio que reuniu vários pesquisadores e culminou com o surgimento de um livro sobre o indivíduo hipermoderno, uma das grandes referências do livro de Suzana Paiva.
Para quem se interessar em aprofundar no assunto, Suzana explora no livro as questões laborais (do mundo do trabalho) e afetivas (os amores, encontros e desencontros no mundo atual) na saúde do homem hipermoderno e suas conseqüências coronarianas. Certo é que nossa saúde física é fruto da inteiração corpo, mente, emoções, energias. É com essa consciência que poderemos evoluir globalmente, como realmente precisamos para que a qualidade de vida seja respeitada e priorizada…