O medicamento que vira veneno

No Brasil tomar remédio é mais que um costume. É um vício. Todos têm uma experiência a ser passada, seja pelo vizinho, pelo empregado ou mesmo por algum desconhecido que se encontra na fila do banco. É só ouvir alguém dizendo: “Eu tenho uma doença há tantos anos”… E logo aparece alguém com uma receita de algum remédio milagroso. É uma mania geral.
Mas, apesar de evidente, poucos sabem e acreditam que os medicamentos farmacêuticos devem ser indicados (e receitados) por médicos, mesmo assim, as pessoas não imaginam o risco de estar tomando “um veneno”, dependendo de quem o receitou.
Veja o que diz uma pesquisa realizada no Canadá sobre o analgésico e anti-inflamatório Vioxx, usado em larga escala no Brasil e no mundo (do grupo farmacêutico americano Merck), indicado como analgésico e anti-inflamatório. Esta pesquisa comprovou que a droga, após poucos dias de uso, pode ter provocado ataques cardíacos em pessoas que nunca tiveram antecedentes circulatórios.
Muitas pessoas que sofreram ataques cardíacos carregam o estigma do desregramento e dos excessos cometidos durante a vida como tabagismo, comer carnes gordas, sedentarismo etc. O comentário geral é sempre defensivo; morreu porque fumava muito… e comia muita carne de porco… não fazia check-up… dentre outros comentários, como quem quisesse dizer: Graças a Deus, estou fora desse risco!
Segundo o estudo realizado, publicado pela Associação Médica Canadense, existem medicamentos que são utilizados inocentemente para tratamentos diversos, que têm o efeito de provocar a interrupção do fluxo coronariano causando sérios problemas no coração como o infarto agudo do miocárdio (enfarto cardíaco) e angina do peito, mesmo que estes pacientes tenham ótimo desempenho circulatório. Este trabalho revelou números estarrecedores. Em 25% dos pacientes que sofreram uma crise cardíaca durante o tratamento com alguns tipos de anti-inflamatórios, teve o acometimento logo nos primeiros dias de uso, não necessariamente, estar tomando o medicamento por longos períodos.
Nos países de primeiro mundo, o anti-inflamatório foi retirado do mercado em setembro de 2004, depois que o laboratório Merck divulgou um estudo interno mostrando que o vioxx duplicava as chances de se ter um acidente cardíaco após 18 meses de tratamento. O estudo canadense é o primeiro a evocar um período de tempo tão curto para a aparição de um acidente cardiovascular.
Um quarto dos pacientes que participou do estudo foi acometido por infarto do miocárdio duas semanas após a primeira ingestão de vioxx”. Apesar de todos estes antecedentes, aqueles pacientes que fizeram uso do vioxx não precisam ficar preocupados com efeitos tardios da droga pois, o informe mostra ainda que o risco de sofrer um ataque cardíaco volta ao normal depois de um mês sem o consumo do anti-inflamatório.
O que nos chama a atenção é que a ciência ainda não observou que os efeitos colaterais dos medicamentos são indicadores que algumas pesquisas são mal realizadas e mal conduzidas. Talvez o investimento alto aplicado nessas pesquisas, clamem pelo retorno financeiro imediato. Por outro lado, a velha e salvadora aspirina (AAS) protege o coração, tem ação anti-inflamatória comprovada, mas tem uma problema: É de baixo custo e dá pouco lucro, pois é de domínio público.
As pesquisas vão continuar, pois da mesma forma que os cientistas descobriram medicamentos importantes e salvadores, o lançamento de novas substâncias deverão passar por outros critérios, pois estão pondo em risco a saúde de quem têm algum mal de fácil convivência e simples resolução.
Esperamos que os cientistas, na maioria das ações, venham contribuir positivamente na questão da batalha contra as moléstias, e aqueles de bom senso sabem que não existem doenças incuráveis… é que ainda não descobriram o remédio para tais doenças… Mas é sempre bom lembrar aos cientistas das palavras que vovó sempre dizia: Caldo de galinha e um pouco de prudência não fazem mal a ninguém.
Até a próxima.

Dr Carlos Eduardo Guimarães

Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), desde 1997.