A Cama na Varanda

O ponto de partida em toda questão sexual, além de estabelecer a intimidade de duas pessoas, está sempre relacionado aos genitais. E criou-se em cima desta questão o mito da perfeição do desempenho sexual ou a grande performance dos envolvidos, para extrair de uma relação o máximo prazer.
Lamentavelmente, nossa cultura valoriza de forma inconcebível a genitalização, ou seja, apenas o ato da penetração. A descoberta do sexo como fonte de prazer implica ampliar a vivência erótica que pode se iniciar com o envolvimento de um olhar ou com um toque que traduz a palavra chave do relacionamento: o encantamento.
Neste universo de descobertas, o contato corporal parece ter consciência de que a pele é um órgão que transmite sensações, sendo uma grande demonstração de carinho e prazer. Sexualidade é um sentimento que desperta naturalmente e que existe em todo ser vivo, inclusive nas plantas e animais, que pela ação dos hormônios transformam a libido em um cortejo de uivos e gemidos, onde se misturam o prazer e a transcendência da existência.
Nesta aula de sobrevivência animal, o ser humano ainda acredita em padrões sexuais como: tamanho do órgão, tempo de conjunção, orgasmos múltiplos etc., se esquecendo de que cada pessoa tem sua dimensão e sentimentos que mostram claramente que, na cama, cada um desempenha seu papel de forma particular. Tamanho não é documento e nunca foi. Dizem que sexo é uma varinha de condão; não interessa o tamanho, mas sim a mágica que ela consegue fazer. Essa mágica está diretamente ligada ao “encantamento” que existe no estar junto à pessoa querida.
O consultório de um médico vive cheio de pacientes com queixas de alterações sexuais, um percentual muito alto comparado ao silêncio no qual vivem esses pacientes e suas dificuldades na satisfação. A educação sexual deveria fazer parte de todo currículo escolar, sendo na maioria das vezes negada pelo conservadorismo tacanho, sempre associando a imagem do sexo ao pecado. Por isso este prazer que muitas vezes anda junto com o MEDO, trazendo como consequência a frigidez ou a impotência. A falta de conhecimento sobre sexualidade é o maior produtor de problemas da esfera sexual.
Por que tanto mistério sobre uma questão tão básica? Bem, o mundo está mudando e, com ele, todos os conceitos ultrapassados, que acreditavam que na horrorosa estória da cegonha que guardava a ignorância educacional .
Cada um faz sexo à sua maneira (uns até sem usar o órgão sexual) criando, de uma forma sadia, templos para abrigar suas fantasias eróticas e, portanto, ser feliz. A construção da relação afetiva começa pela manhã (respeito, amizade e cooperação) e termina à noite, na intimidade corporal. Por isso, se tivermos um dia cheio de atritos e desavenças com a pessoa com quem nos relacionamos, fatalmente à noite teremos um desempenho de risco.
É para isso que Deus fez o homem, para ser feliz(!) e, mesmo que tenhamos que esperar muito tempo para aprender, a descoberta do prazer, sempre vai estar perto. Pena que tanta gente ainda pensa que felizes são só os outros. Ser “bom de cama” é, antes de tudo, uma condição da emoção. Não importa como podemos manifestá-la, seja no carinho do toque, na carícia ou no orgasmo. A descoberta acontece quando nos livramos do medo e do preconceito.
Até a próxima!

Dr Carlos Eduardo Guimarães

Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), desde 1997.