Era tarde quando o boeing das Aerolíneas Venezuelanas anunciava a aterrissagem. Havana estava no escuro. Nenhuma luz acesa, nenhum poste iluminado, somente tochas medievais podiam clarear as casas em Cubanacan, bairro das antigas mansões, habitado pelos abastados americanos, nos anos 50.
Um calor forte era soprado pelos corredores de vento que vinham da orla marítima. Quando descemos, fomos vistoriados minuciosamente no setor de imigração, além de ter as malas mexidas por mãos inescrupulosas.
Era uma experiência nova, entrar em um país onde a democracia só existia bem definida nos dicionários. Bem, mas não interessava muito a abordagem, mas sim a vontade de conhecer a medicina que os cubanos desenvolviam. O país se encontrava em dificuldades econômicas e sem perspectivas de crescimento, devido ao embargo econômico imposto pelos americanos. Literalmente cuba estava ilhada.
Depois desta passagem fomos diretos ao hotel Biocaribe, e logo fomos recebidos pelos olhares e gestos afetuosos dos nativos, e com muita salsa e merengue, alegravam o ambiente. Cansados fomos dormir.
Pela manhã uma vasta programação: Visita ao centro médico de neurotransplante, onde veríamos o que há de mais moderno em termos de pesquisa na área. Chegando ao centro tivemos duas palestras sobre os avanços na área de cirurgia neurológica e complementando, a recuperação obtida através da acupuntura.
Bem, estava de olho neste assunto e fui logo me desvencilhando do grupo e busquei me entrosar com o grupo de médicos que realizava acupuntura. Uma realidade interessante, técnicas modernas de cirurgia completadas por técnicas milenares da acupuntura.
O Dr. Elias Gonzalez, responsável pela acupuntura no hospital, me esclareceu que a acupuntura era usada em todos os hospitais de Cuba e não só os médicos como também os dentistas lançavam mão destas técnicas maravilhosas.
Fiquei emocionado ao ver um paciente que havia sofrido um acidente automobilístico, tendo sofrido lesão medular, voltar a dar os primeiros passos, com auxílio de aparelhos e duas agulhas espetadas na cabeça. Questionei aos cubanos se eles usam raio laser como método complementar e tive como resposta um total desconhecimento desta técnica. Aproveitei e relatei algumas experiências que tínhamos com o uso do raio laser, o que motivou um intercâmbio entre nós.
Após 10 dias de cansativas palestras, com os cubanos falando um castelhano rápido e pouco entendível, observei naquele povo uma busca muito grande na medicina alternativa, saída prática para os problemas de saúde pública.
Curiosamente eles conheciam muito bem o Brasil, inclusive sobre música e muito sobre a floresta amazônica. “Os Brasileiros não sabem o que têm às mãos”, dizia Dr. Gonzalez se referindo às propriedades dos medicamentos vindos das plantas e chamava a atenção: Vocês têm muita sorte de ter uma reserva ecológica monumental como a floresta amazônica, mas tem que ter cuidado com os “piratas”.
Sem compreender bem perguntei: Mas que tipo de piratas? O Dr. Gonzalez coçou sua barbicha e retocou: Se não tomarem cuidado, vão dar aos americanos este tesouro e depois terão de comprar os produtos deles.
Aí compreendi a necessidade da politização de um povo. Defender a pátria acima de qualquer interesse particular, porque a igualdade em Cuba começa pela politização do povo, mesmo que muitas vezes tenham que ficar emudecidos pelas mordaças da tirania comunista.
Após ficar em Cuba durante 68 dias, voltei ao Brasil valorizando algumas coisas que nunca mais esquecerei. A primeira, é a capacidade de um povo conseguir evoluir culturalmente sem ter dinheiro. A segunda questão era sobre o uso da medicina natural em quase todos os procedimentos na área da saúde. E o terceiro, que ficou mais retumbante, foi sobre a Amazônia, um tesouro que os cubanos conhecem e sabem o valor incalculável desta riqueza, ao contrário de muitos governantes brasileiros que a cada dia permitem mais e mais desmatamentos, além da permissão da espionagem dos intrusos imperialistas, segundo o Dr. Gonzalez.
Até a próxima.