Todo Natal ele aparecia com sua roupa vermelha recoberta de pele, sob um sol de 40º, vindo de trenó pela rodovia 262, trazendo um sorriso sorrateiro em um rosto de bochechas coradas.
Desta vez, ele trouxe, ao invés de um “saco de presentes”, um megafone (tipo sindicalista) e bradou para todos:
Ei pessoal! Gostaria de falar com as crianças! Crianças de todas as idades e de diferentes classes sociais, para lhes dizer que eu não existo! Eu sou uma criação hipócrita! Por isso gostaria que o símbolo do Natal voltasse ser apenas a presença de Deus entre os homens.
Gostaria que todas as lojas e recintos comerciais tirassem a minha figura e colocassem luzes, tochas e flores. Gostaria que a minha aparição tivesse acontecido entre ricos e pobres, e não só para aqueles que possuem condições abastadas. Gostaria também que a ilusão fosse um remendo da realidade e não a realidade sendo esconderijo de fantasias, por isso não quero mais confundir a inocência imaculada da pureza infantil.
Todos somos iguais dentro dos templos e das igrejas e não deveríamos confundir a igreja com um shopping. O Natal comemora a vinda do Salvador e diante desta data iremos buscar o verdadeiro sentido da presença dele. Igualdade de direitos e de justiça passarão ser o símbolo do Natal a partir de agora. Vamos trocar as castanhas e as amêndoas pelas frutas frescas, vamos tirar os algodões postos nas árvores para imitar “neve” e colocar um gradil em volta, simbolizando a proteção à natureza. Vamos acabar com a violência, que começa sempre pelos desníveis sociais, sendo a pobreza e a miséria a maior delas.
Assim acredito que minha renúncia poderá trazer a compreensão e o entendimento. Desta maneira, resgatando o verdadeiro Natal, teremos de volta o sentido humanitário e fraternal. Parar, refletir, agradecer e transformar a vida, se faz necessário para que possamos perceber a espiritualidade, que se manifesta nas atitudes benévolas.
Todos devemos meditar e fazer silêncio pelas vítimas da insensatez dos cruéis ditadores, daqueles que possuem a intempérie da marginalidade e do desmazelo. Por tudo isto renuncio, abominando a força da mentira. Não quero que me confundam com a bondade, traduzida em forma de presentes condensados em caras caixas de veludo, mas muitas vezes vazias de sensatez. Que a felicidade possa ser entendida como um direito e a fraternidade a essência.
Assim, gostaria que a partir de agora esta data conhecida como natal, apenas fosse agraciada em orações e poções de esperança e paz. Que abram vinhos, mas que repartam o pão, que gritem “vivas”, mas que digam amém.
A todos os amigos e amigas, um feliz \natal, repleto de esperança e paz!