Remédio para curar homossexuais

Meu filho é homem do “saco roxo”!!!! Desta forma, muito emocionada, muitas pessoas declinavam uma inabalável virtude do filho ser “machão”. Ser chamado de viado (palavra que não tem nada haver com o animal e sim com a palavra desviado ), era uma alusão a um desvio de conduta, mais que motivo pra iniciar uma “pancadaria”.
Quando acreditávamos que estes conceitos foram sepultados no passado, nesta quarta feira de um dia chuvoso e lúdico, aconteceu algo sinistro. O cenário da epopeia histórica foi a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, com seus deputados engravatados e ansiosos para começar a votar um importante artigo, para transformá-lo em lei.
Este projeto a ser analisado e votado, versava sobre a contenção de uma epidemia avassaladora que estava contaminando grande parte da população carioca. O teor do projeto pretendia dar aos Gays uma oportunidade de ficar livre desta “terrível doença” chamada Homossexualismo!
Ora bolas, em um país com tanta coisa “rolando e enrolando” pela escada abaixo, os nobres tribunos do Rio de Janeiro se prestaram a uma votação do projeto lei intitulado: Lei para curar gays. O projeto foi elaborado pelo deputado Edino Fonseca (PSC) que além de político, é também pastor evangélico.
Acreditando ser uma “terrível doença”, o pastor, elaborou uma lei que permitiria os homossexuais serem tratados em clínicas especializadas, com intuito de ficarem livres desta doença terrível (segundo o pastor). Preconceituoso e prepotente, o pastor foi ruidosamente vaiado pela platéia que lotou a galeria da assembléia, sob os gritos de “nazista” e outros jargões indecorosos.
Bem, achamos tudo isso uma grande tragédia, que ilustra bem a seriedade dos políticos que andam soltos no país. Primeiro: acho que homofobia ou qualquer ato contrário a liberdade de expressão sexual, se torna algo parecido com as “botinas massacrantes” dos militares da época da ditadura. Segundo: a sexualidade é uma opção subjetiva de cada um. Terceiro: Cada um é feliz com seus princípios e conceitos, que devem ser respeitados e acatados como direito da individualidade humana.
Acreditamos que os meios de comunicação têm uma grande responsabilidade nas informações que deveriam ser isentas de preferências pessoais. Muito ao contrário, muitos programas de televisão como Zorra Total, Ratinho, entre outras porcarias que invadem diariamente a casa dos brasileiros, evidenciam de forma pejorativa o comportamento homossexual. Estes programas criam uma imagem crítica ridícula, carregada de preconceito aos gays. Desta forma, acredito que se forem patrocinar remédios, deveriam financiar tratamentos indicados na cura de mentes retrógradas e mofadas.
Sempre achei que política e religião são coisas difíceis de consenso, agora, religião virar bandeira de projeto é simplesmente uma blasfêmia e uma atitude a ser repudiada. Acredito que se alguém precisa de terapia, quem deveria se submeter a alguma é o nobre deputado (um dos mais votados!), já que mostrou ter senso crítico alienado sem gesto de discernimento.
A sociedade preconceituosa precisa ser menos calhorda e procurar evoluir dentro deste retrocesso cultural, exibido em caráter de franca retaliação e exclusão social. Ainda bem que o projeto foi rejeitada por 30 votos contra 6 (todos vindos de evangélicos).
Diante desta “divina Comédia”, o dinheiro público que poderia ser transferido absurdamente à cura dos homossexuais, poderá ser destinado à outro tipo de aplicação, que necessite realmente de investimentos na área social, como postos de saúde, educação, moradia etc… Parece piada… mas não é.
Até a próxima.

Dr Carlos Eduardo Guimarães

Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), desde 1997.