Viagra em primeiro lugar

No final do ano aparecem as retrospectivas mostrando como foram os 365 dias de mais um ciclo que passou. Aparecem nelas os melhores do ano em cada setor, os mais belos gols, quem casou mais vezes, quantos morreram entre uma chuva e outra, etc… Mas o índice que mais me chamou a atenção foi aquele que indicou os remédios mais vendidos no ano que passou.
Como no Brasil a prática da auto-medicação é um hábito arraigado, não seria de se esperar que a relação dos medicamentos mais vendidos fossem omitidos. Entre os medicamentos mais comercializados estão os analgésicos e anti-inflamatórios, que na maioria das vezes são utilizados sem prescrição médica e possuem uma imensidão de efeitos adversos e os medicamentos utilizados para melhorar a potência sexual dos homens, estes sem dúvida são comprados livremente.
Levando-se em conta que tanto homens como mulheres têm dores diversas, é de se esperar o resultado, mas por outro lado, só os homens usam o “comprimidinho azul”. Daí, podemos ter uma ideia do que seja o problema sexual para o universo masculino. De onde vem toda essa doença ou as dificuldades sexuais masculinas?
Há vários anos tenho escrito e falado com os meus amigos e clientes que diminuam a ingestão de gorduras e frituras, que parem de fumar e de beber, que façam exercícios e principalmente caminhem, mas os que ainda são jovens dão risada e partem para o rodízio carnívoro, e ainda fazem chacota dizendo sobre “aquela picanha gordurosa”…
Também cansei de falar pelo mundo afora de uma visão corrompida do sexo, e mais que isso, de uma visão corrompida da mulher enquanto parceira sexual. A imensa maioria dos homens que pude conversar sobre o assunto, não tinha uma visão saudável da mulher: Ora a idealizavam como mães e santas, ora a cobriam com seu desprezo tratando de diminuí-la na vã tentativa de assim ficarem um pouco mais seguros. Outros vêem a mulher como uma vagina, se esquecendo da complementaridade do afeto. Poucos viam a mulher como a sua parceira divina e principalmente como um complemento da felicidade sexual.
Mas algumas mulheres também contribuem bastante para manter esse ciclo de impotência, submetendo-se ao papel que alguns homens criaram para elas: A submissão. Dessa forma não conseguiremos ver na impotência real, o resultado de um medo de ser feliz ou mesmo de uma tentativa de fuga, para que não ocorra uma decepção de uma fantasiosa virilidade. O comportamento distorcido, e a falta de autoconhecimento são fatores preponderantes. Além de tudo, a pílula azul nem sempre supre as expectativas. Quem a utiliza acreditando em milagre, certamente vai “quebrar a cara”.
O que vale na plenitude sexual é a entrega da intenção. Enquanto houver medo e insegurança, certamente maiores serão os insucessos. Não podemos esquecer que a medicina é uma forma de ajuda e quem quiser obter resultados, certamente terá que mudar sua maneira de ver as coisas. Nem médico nem remédio são tão poderosos quanto a cura que vem de dentro nós mesmos. E essa cura vem através da dissolução dos ?nós? que criamos durante toda existência e que, fingimos ou sublimamos sua influência. Dessa forma, a sociedade masculina vai sendo ?engalobada? por um monte de propagandas, acreditando na dependência química para resolver seus problemas, criados pelos conflitos e contradições. Precisamos rever para ver.
Outro aspecto é que a sexualidade declina com o passar do tempo como forma de proteção à vida. Um ato sexual tem a função de manter a espécie e também de expressão de prazer e felicidade. É sabido que quanto mais velho é o indivíduo, maior a probabilidade de mutações genéticas. Outro aspecto é o consumo de energia e essência durante o ato sexual. É sabido que muitos cardiologistas proíbem as atividades sexuais para alguns indivíduos, devido ao risco de um colapso. Podemos através do tempo descobrirmos através do afeto e outras atitudes, uma forma de realização sexual madura e plena. Acreditem: Existem muitas formas de fazermos sexo sem precisar do ?comprimidinho milagroso?. Dessa forma, é preciso conhecermos melhor nossa natureza antes de lançar mão em medicamentos que, podem ser um risco para a saúde mental e física.
Feliz 2009 e até a próxima.

Dr Carlos Eduardo Guimarães

Carlos Eduardo Guimarães é Médico, com especialização em Acupuntura e Clínica Médica e pós-graduação (latu sensu) em Fitoterapia. Autor do livro "Nutrição Ayurvédica - Do Tradicional ao Contemporâneo". Colunista do jornal Acontece (Caeté-MG), desde 1997.