“Infelizmente o senhor tem no máximo 15 dias de vida. Pode ir para casa preparar-se, pois nada mais poderá ser feito no seu caso.”
Há muitos anos eu escuto o relato de pessoas que receberam esse tipo de prognóstico. Mas foram tantas as vezes que eu tomei conhecimento da derrubada dessas previsões que, já há algum tempo, eu me acostumei a pensar, a cada relato dessa natureza, que aquela seria a última vez que algum médico posaria de profeta. Ainda não chegou essa última vez! Infelizmente, com certa frequência e regularidade, ouço palavras tristes ou revoltadas de pacientes que tiveram sua vida condenada por profissionais de saúde que, à semelhança de deuses encarnados, imaginam poder determinar com precisão os processos que determinam a vida do Ser Humano. Certa vez uma paciente contou-me, bastante revoltada, um ano depois da data marcada (por um médico) para sua inevitável morte, o diálogo que teve com o médico no momento de sua fatal previsão. Irritado com a reação questionadora da paciente, que relutava em aceitar a sentença de morte logo na primeira consulta, o médico perguntou-lhe, em tom alterado : “A senhora por acaso acha que eu não sei o que estou dizendo, ou que não tenho experiência nesse assunto”? A paciente respondeu : “O senhor pode entender tudo da sua especialidade, pode saber tudo dessa doença, pode conhecer tudo acerca dos seus remédios, mas é completamente ignorante a respeito da minha pessoa e acerca de outras formas de cura que existem por esse mundo afora.” O mais incrível é que essa paciente encontrou um tratamento que prolonga sua vida e sua saúde, até os dias de hoje, não em curas exóticas ou estrangeiras, mas na própria medicina alopática e na mesma especialidade do médico. Apenas o que mudou foi a postura do profissional que, dentro de uma abordagem mais humana, mais clínica e menos arrogante, deu à paciente o benefício da dúvida e, conseqüentemente, uma chance de lutar contra a doença, administrando-lhe uma terapia que a auxiliou. O médico pode dizer, com palavras claras e ternas, que, de acordo com o conhecimento atual da ciência e dentro da sua experiência profissional, a doença do paciente é considerada de alto risco; que as chances de sucesso no tratamento que ele propõe são pequenas e ser honesto bastante para dizer que ele, pessoalmente, não conhece outra alternativa terapêutica para o caso. Uma outra paciente disse-me, amargurada, quase dois anos depois do dia da sua sentença de morte, passou a ter trauma do Natal e do ano Ano Novo, pois a época marcada por um médico para a seu falecimento coincidia exatamente com a proximidade dessas datas. A paciente e toda a sua família passaram dias de angústia e sofrimento à espera do desenlace fatal da doença que então a acometia. Movida por uma grande determinação e força de auto-cura, essa paciente recorreu a vários tipos de tratamentos tradicionais e não-acadêmicos e, sem poder eleger uma terapia única responsável pelo seu sucesso (às vezes perguntando-se se não teria sido curada por sua fé), essa mulher está hoje em estado de saúde melhor do que o seu médico sentenciador. A nós, médico e em especial aos pesquisadores pode interessar muito a determinação de qual terapia foi mais ou menos eficiente no processamento dessa cura, mas à paciente o que interessa é a recuperação de sua saúde. Estou convencido que quando Platão filosofou: “Primeiro devemos tratar a alma, depois do corpo” ele mostrou o quanto é importante entender a doença como um desequilíbrio que evidencia um desarranjo geral do indivíduo; espiritual, mental e físico. Quando Hipócrates profetizou: “Não existe doença incurável… é que ainda não descobriram os medicamentos para a cura desta doença”, ele dizimou qualquer profecia que viesse malograr a vontade de viver de alguém que se encontrasse doente. Por isso acho que quanto mais estudamos, mais humildes deveríamos ser para entender que, nosso conhecimento passa por situações que a própria razão desconhece. Até a próxima.