Daniele Vilela Cardoso Leite

A criança e a morte de um ente querido

Daniele Vilela Cardoso Leite*

Segundo as estatísticas, cerca de meio milhão de crianças a cada ano sofrem a morte de um dos genitores, pai ou mãe. Essa é a pior perda que uma criança está sujeita.
“O conjugue sobrevivente, desejando proteger a criança, pode tentar evitar que ela experimente a perda, exprima angústia e compartilhe o luto da família. Porém as crianças têm a mesma necessidade dos adultos de lamentar e perceber o que aconteceu.

Existem cinco necessidades básicas nas crianças de todas as idades, quando defrontadas com a morte de um progenitor: 1-a necessidade de informação clara e precisa; 2-a necessidade de se sentir participante e importante; 3-a necessidade de confiança renovada a respeito da angústia dos adultos à sua volta; 4-a necessidade de seus próprios pensamentos e sentimentos; 5-a necessidade de manter os interesses e atividades adequados à sua própria idade.?

É importante que a notícia seja comunicada por um adulto próximo, que passe segurança à criança. Colocá-la no colo, demonstrar afeto, proteção, são atitudes adequadas e desejadas. É sadio emocionalmente que se expresse, admita e vivencie a dor ao invés de negá-la. Essa atitude faz parte do processo de elaboração do luto. Fingir que não aconteceu algo muito ruim não é saudável. Mas o outro extremo também é muito pernicioso. Se agarrar à dor e não transcender esse estágio, arrastar e alimentar por anos o sofrimento. Segundo a tanatóloga Tatiana Guimarães Alves Freitas, ?dor é positivo, sofrimento é negativo?, no sentido em que a dor é inevitável e deve ser reconhecida, mas alimentá-la por muito tempo, Às vezes por toda uma vida vira sofrimento e é altamente negativo. ?Algumas orientações para ajudar as crianças a lamentar a morte e depois deixar para trás um ente querido: 1- Ajude seus filhos a expressar seus pensamentos e sentimentos (para trazer a angústia à tona, encoraje seus filhos a pô-la para fora chorando e a falar de seus pensamentos e sentimentos sobre a pessoa que faleceu). 2- Relembre ( ajude seus filhos a lembrar do falecido, mesmo que isso seja doloroso. Lembrar tanto as qualidades quanto os defeitos). 3- Dê explicações honestas sobre a morte (seja sincero e aberto a respeito dos fatos da morte. Mas recorde que não se pode esperar que crianças de seis anos para baixo compreendam o significado completo da morte, especialmente seu caráter definitivo e universal. Portanto adapte suas explicações à idade da criança). 4- Expresse abertamente seu amor ( principalmente nos estágios iniciais do luto uma criança precisa se assegurar de que é amada. Isso fará com que se sinta mais segura). 5- Não esconda sua angústia ( é importante que a criança o veja expressar sua angústia. Explique que todas as pessoas choram quando se sentem tristes e que isso está certo). 6- Pontos de vista religiosos e filosóficos podem ajudar (estudos mostram que se uma família é religiosa e tem um sistema transcendental de valores, isso poderá capacitar seus membros a lidar melhor com a morte e a perda.?
Quanto à questão se as crianças devem ou não ir aos funerais, ?depende dela e da situação. Se ela for suficientemente grande para entender e quer participar, estar presente poderá ajudar a tornar a morte menos misteriosa e assustadora. Caso a criança seja muito imatura e/ou os adultos estejam prestes a perder o controle, será provavelmente melhor manter a criança em casa com um adulto em quem confie, o qual poderá responder às suas perguntas. Mas o ritual pode ajudar. Depois de se ver o corpo é difícil negar a perda. Antes de ir a um funeral pela primeira vez a criança deve ser preparada. Um adulto deve contar o que irá acontecer.”

O processo do luto é demorado. Pode levar um ano e/ou até dois anos. Mas é necessário e é a nossa realidade enquanto seres humanos. Com a ajuda do tempo, a elaboração acontece e os sentimentos se transformam…

Informações retiradas da apostila do curso “Diagnóstico Psicológico Infantil, Ludoterapia e Orientação de Pais” Ciclo Ceap.

*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.