Daniele Vilela Cardoso Leite*
Depressão é uma doença mental altamente dolorosa, existencialmente dura, atinge a alma. Não é frescura ou apenas tristeza.
Caso seja da ordem da psicose é considerada depressão maior, é grave. Se expressa de maneira peculiar no entrelaçamento do físico e o emocional. Os neurônios, que são células nervosas cerebrais, não produzem as substâncias químicas necessárias para que ocorra normalmente a passagem de um estímulo nervoso de um neurônio a outro. E é da passagem desse estímulo que se cria um “fio condutor”, uma rede que transmite determinadas informações cerebrais e faz as devidas conexões para que haja saúde. O medicamento antidepressivo atua estimulando a produção dessas substâncias. Portanto a depressão é uma doença que perpassa o físico, o emocional, o mental. Acontece uma associação entre corpo e mente, e possui causas e conseqüências nessas duas instâncias.
Mas como tudo na vida, até mesmo de algo tão complexo pode-se tirar proveito. Ela simbolicamente mata (e pode levar à morte no concreto se não tratada) e após a morte vem o renascimento. Renascimento na maneira de ver o mundo. No amadurecimento. Há uma transcendência, uma nova forma de relação com a vida.
Não é raro grande dificuldade em relação à finitude. Não apenas a morte física e concreta, mas qualquer tipo dela. Morremos para o minuto que passou e nascemos para este minuto presente, o qual você, leitor, destinou a ler essas palavras. E a cada minuto passado há o presente e o futuro. Nascimento, manutenção, morte. É essa a lei da vida, do viver. É um ciclo infinito. Muitos são os que possuem dificuldade em aceitar as mortes diárias, e agem com rigidez e dificuldade extremos. Aceitar essa ordem natural na prática às vezes não é assim tão fácil. Mas viver é treinar esse ciclo em todos os âmbitos pensáveis, para desfrutarmos as delícias de cada etapa. Após a cura de um episódio depressivo, há uma profunda transformação.
A depressão é como um espelho que demonstra que há coisas erradas, e obriga à mudança na vida do indivíduo. Mudanças internas e externas. É doloroso, extremamente doloroso, mas faz crescer, ver diferente. É morrer e nascer na Terra, aqui neste planeta, nesta vida, neste mundo.
Precisamos apoiar as pessoas que passam por isso com amor, com amizade, com terapia, com Deus. Pois é necessário apoio, força e auxílio para quem passa por esse processo, por essa doença. Mas essencial é entender que se há doença, precisa-se buscar com todo empenho e força o caminho para a superação, pois após o início, vem o meio e o fim, e um novo início, e assim caminha a humanidade, assim caminhamos cada um de nós.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.