Daniele Vilela Cardoso Leite*
Vários problemas emocionais surgem a partir de brigas, discussões, mal-entendidos. Devido à magoa advinda de situações desagradáveis, muitos acabam por adoecer emocional e também fisicamente.
Aquela enxaqueca que nenhum médico descobre uma causa biológica convincente, aquela ansiedade desmedida, ou problema de alergia crônico, entre muitos outros distúrbios, têm origem em situações de raiva, rancor, mágoa.
Segundo o relato de um indivíduo, ele concluiu ter curado um problema de estômago que o perturbou durante anos, apenas quando perdoou sua mãe. Pelo que contou, ela nunca expressou sentimentos de afeto maternal, enquanto ele deseja e necessitava se sentir amado e querido. Foi depois de adulto, com os filhos na fase da adolescência e a vida mais estruturada que este indivíduo se sentiu capaz de perdoá-la.
Este relato remete à reflexão sobre o papel do perdão e o seu “efeito curador”. Participei de um curso sobre Linhas Terapêuticas no qual surgiu em tom de brincadeira a “teoria do perdão egoísta”. Nesta “teoria” um indivíduo perdoaria o outro porque ele seria o beneficiado. Quem consegue perdoar, está livrando seu corpo e mente de energias ruins provenientes de raiva, mágoa, rancor, dor e substituindo por leveza, amadurecimento, paz, harmonia, saúde.
Depois foi concluído que dizer “perdão egoísta” era uma contradição, pois os benefícios atingem a todos. É impossível não haver um ganho geral. Mesmo se quem for perdoado estiver distante e não tomar conhecimento da situação. Como diz Lair Ribeiro, energia atrai energia. Pensamentos de pobreza atraem pobreza, pensamentos de riqueza atraem riqueza, pensamentos de perdão atraem bons fluídos para todos.
A proporção das dificuldades em perdoar é tão grande quanto os benefícios advindos do perdão. Portanto, no saldo final, certamente vale a pena. Perdoar de verdade. Não apenas com os lábios, mas do fundo do coração. Perdoar inteiro e não pela metade.
“Dorme a serpente, há milênios, em seu escondido lar, enrodilhada nas profundezas da montanha.
“Um dia, desperta, pela reta chaminé subirá em fogo, para o cume.
“Ali, vulcão, derramará lavas pelos campos que o homem lavra.
“Ali, vulcão, despejará cinza quente, degelando a inércia infecunda das almas abortadas.
“Ali, vulcão, chamejará luz e será estrela.
“Dali, vulcão, explodirá, abalando os mundos, despertando os deus, desfazendo e libertando a montanha”
A serpente, o rancor. O vulcão, o perdão. A liberdade da montanha, sua liberdade.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.