Daniele Vilela Cardoso Leite*
A família se constitui por várias individualidades, mas formando um único sistema. Uma só família. O comportamento de uma pessoa dentro da família é dependente dos outros membros no sentido de que “se ocorrer qualquer alteração em um elemento do sistema, todo o sistema será alterado”. “Portanto, o que causa modificação em um membro modificará a família como um todo”.
A família quer a estabilidade. Ela busca esta estabilidade de maneiras especiais, principalmente quando existe uma tentativa de mudança. Busca-se a homeostase, termo que vem da biologia, e que os teóricos sistêmicos utilizam (teóricos sistêmicos são estudiosos da família. São psicólogos, médicos, cientistas). Homeostase para eles é um termo utilizado quando querem se referir à capacidade de adaptação interna das famílias.
“Para conseguir a homeostase desejada, a família delega papéis, altera seu funcionamento e chega até poder adoecer um de seus membros”. Mas em um núcleo familiar, todos são responsáveis por suas vidas. São as pessoas que criam as regras dos relacionamentos. Existe um compromisso que é do grupo todo, mas também é de cada um. Nas famílias existem papéis, funções. A família delega e cabe a cada um aceitar ou não. Por isso a importância de ter consciência que é assim que as coisas funcionam.
Consciência é necessário para que haja mudança. Existe uma teia de relacionamentos e se as pessoas nem percebem que cada um luta à sua maneira todo o tempo para se manter de pé, se a realidade permanece inconsciente, (por isso a psicologia fala tanto no inconsciente) não há crescimento, não há evolução. Há estagnações, doenças, dificuldades. Mas podem acontecer mudanças positivas.
No livro “Por trás da máscara familiar” fala-se que “a necessidade de diferenciação, entendida como necessidade de auto-expressão de cada indivíduo, funde-se com a necessidade de coesão e manutenção da unidade no grupo com o passar do tempo. Teoricamente o indivíduo é membro garantido em um grupo familiar que seja suficientemente coeso e do qual ele possa se diferenciar progressiva e individualmente, tornando-se cada vez menos dependente, em seu funcionamento, do sistema familiar original, até poder separar-se e instituir, por si mesmo, com funções diferentes, um novo sistema”. O indivíduo então experimenta com sua família formas de relacionar, expressar, e caminhar para o mundo a fim de se relacionar com membros de outras famílias. E assim as mudanças vão ocorrendo.
“Esse processo de separação/individuação requer que a família passe por fases de desorganização, na medida em que o equilíbrio de um estágio é rompido em preparação para a mudança para um estágio mais adequado. Essas fases de instabilidade, caracterizadas por confusão e incerteza, marcam a passagem para um novo equilíbrio funcional.
“Isso ocorre de forma natural somente se a família é capaz de tolerar a diferenciação de seus membros. A evolução pode ocorrer ou não. Se a família for flexível e aceitar as diferenças e o processo de cada um, tudo é melhor. É questão de flexibilidade, de aceitar que as pessoas são diferentes, têm necessidades diferentes. Quando a família é muito rígida, conservadora em excesso, as mudanças são mais lentas, mais traumáticas, mais difíceis, e talvez nem aconteçam.
Se a família aceita as individualidades, as mudanças são mais naturais, menos traumáticas, embora aconteça a desorganização para a reorganização, mas tudo mais fácil. “Em famílias que estimulam tanto a coesão familiar como a individuação dos membros da família, cada pessoa desenvolve uma imagem diferente, estável de si mesma, dos outros membros da família e de si mesma em relação aos outros”.
Enfim, os desafios existem e estão aí para serem superados. Mas para isso tem que haver consciência. Lembrando que cada um pode alimentar sistemas nocivos, como também ter consciência deles e colocar limite na situação. Colocar limite é difícil, dá trabalho, mas é preciso. A vida nos pede. Pede flexibilidade e também capacidade de colocar limite nos outros e em si mesmo. Um grande “X” da questão está nas palavras aceitação, atitude, consciência. Cabe a cada um e à família como um todo aceitar os valores da família e conciliar com a aceitação das características de cada um. E assim são formadas teias de relacionamentos. São tecidos lindos e belos fios…
*Artigo baseado no livro “Por trás da máscara familiar”
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.