Daniele Vilela Cardoso Leite*
Deixar de falar a verdade, ou seja, omitir uma situação, ou distorcê-la, relatando versões diferentes das que realmente aconteceram, são fatos que deixam os pais se questionando quanto ao porquê dos filhos agirem assim e do que fazer nestas situações.
Muitos se sentem culpados porque não dão bons exemplos. Muitas vezes mentem ou omitem fatos na presença do filho (“meu pai me ensinou a não mentir, mas esqueceu-se de dizer a verdade”).
Outros se sentem traídos, pois se dedicam ao máximo e recebem em troca filhos com valores distorcidos. Outros sentem-se fracassados, pois pensam que não sabem ensinar aos filhos conceitos importantes.
Para falarmos sobre este assunto na fase da infância é importante primeiramente diferenciarmos a mentira da fantasia. Até três anos de idade a criança não distingue entre o real e o fantástico. Não consegue separar o faz-de-conta da realidade. É na infância que o senso ético vai se formando, amadurecendo. A internalização do certo e do errado vai acontecendo através de processos internos e será por volta dos nove anos que a criança terá estes dois conceitos melhor definidos.
Portanto, ela poderá, neste percurso, às vezes, não falar a verdade e isto será normal. Quando, no entanto, a mentira se torna uma constante na vida da criança, é preciso investigar. Ela pode estar se tornando patológica.
Muitas crianças mentem porque não querem decepcionar os pais que, às vezes, têm expectativas muito grandes em relação a elas.
Pais muito bravos correm o risco de estarem ensinando os filhos a mentir, no sentido em que a criança pode deixar de falar a verdade por medo do castigo, da represália.
Outras crianças mentem porque não sabem enfrentar as críticas, e não estão com a auto-estima bem estruturada. A mentira geralmente denota a sensação de fraqueza, impotência diante de alguma situação.
Ocorre também das crianças mentirem porque aprenderam com os mais velhos. Presenciam os pais distorcendo os fatos, mentindo, omitindo.
O modelo é fundamental na vida da criança, pois ela se espelha nele. É nesta fase que está sendo formado o caráter da pessoa. Por esta ser uma fase de formação, a criança irá repetir pela vida o que ela estiver aprendendo. Por isto ser um período tão importante.
Diante das mentiras, no entanto, é fundamental que os pais não chamem os filhos de mentirosos, fracos, porque eles podem internalizar e acreditar que realmente são assim, e agirão de acordo com este rótulo. É essencial deixar claro que a crítica é para a atitude e não para a pessoa. Ou seja, não é a criança que é errada e feia. É a mentira que é errada e feia. Isto faz uma grande diferença.
É bom conversar com o filho, tentar entendê-lo para compreender o que há por trás das mentiras. É bom lembrar que a criança que está acostumada a mentir não irá parar de uma hora para outra, porque acaba virando um hábito.
Conversando, observando, tentando entender um pouco o mundo infantil, fica muito mais fácil auxiliar a criança no seu desenvolvimento. O importante é saber que a mentira, às vezes, pode fazer parte do processo de crescimento, mas se passa a ser uma forma exagerada pode ser um aviso de que há algo errado. A criança pode estar precisando de orientação, auxílio, atenção, ajuda…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.