Daniele Vilela Cardoso Leite*
A natureza oferece profundos ensinamentos ao homem. Basta que ele a observe (se você quer que o sol entre em sua casa, abra a janela). Veja esta parábola do Mar da Galiléia:
“Na terra santa encontramos dois mares bem conhecidos. Embora alimentados pelo mesmo rio Jordão, eles são, no entanto, totalmente distintos um do outro. O Mar da Galiléia é de água doce e contém muitos peixes. Seu litoral é salpicado por cidades e aldeias lindas. As colinas que rodeiam o mar são férteis e verdejantes. O outro mar é o Mar Morto. É célebre pela sua densidade de sais minerais. Não tem peixes e nem os vegetais têm condições de vida. Seus arredores são desertos. Não existe área verde. O Mar Morto apresenta um aspecto desolador. Donde vem esta diferença? A explicação é simples e simbólica. O Mar da Galiléia recebe pelo norte as águas do rio Jordão com toda a sua carga de vida e fertilidade. Porém não guarda para si esta fertilidade. As águas seguem seu curso rumo ao sul. É um mar que recebe a água do Hermon e das colinas do Golan. Riquíssimo em águas e vegetação. O Mar da Galiléia não vive só para si: reparte tudo aquilo que recebe do clima. No entanto, o Mar Morto é totalmente diferente. Recebe igualmente a água do rio Jordão mas retém esta água só para si. Não possui saída. Enquanto as águas se evaporam todos os sais minerais em suspensão se acumulam no enorme recipiente fechado. A excessiva saturação é estéril. Não permite vegetação alguma, não tem vida. É um Mar que mata. É o Mar Morto.”
Podemos fazer várias leituras dessa parábola. Por exemplo a depressão é resultado do acúmulo e retenção de energias. Canalizá-las é essencial, assim como canalizar as águas do rio Jordão de modo que não se transformem em um Mar Morto. Outra interpretação é a de que hoje em dia o sujeito que tiver uma ideia criativa para ganhar dinheiro tem que correr e colocar seu plano em ação, pois se retiver essa ideia apenas para si, outro acabará passando em sua frente . Este é o viés positivo da ambição. É um dos fatores que motiva os seres a repartirem suas idéias e daí vem o progresso. Entre tantos outros modos de análise da parábola.
A natureza é cíclica. Primavera, verão, outono, inverno. Dia, noite. Nossa vida também. A natureza é diversificada, e é a diferença entre cada elemento que resulta na sua beleza e equilíbrio. Assim é também o homem. A natureza pode ser machucada, agredida, mas quando cuidada é capaz de reagir. Assim também somos nós.
Neste momento a natureza tem demonstrado reação às ações do homem. As catástrofes que têm acontecido (a chuva excessiva em Santa Catarina, o aquecimento global, entre tantas outras) revelam o óbvio. Que se não houver reeducação e mudança de postura do homem em relação à natureza, sofreremos as conseqüências duramente. Na natureza tudo tem o momento certo de acontecer. E tudo é resultado de um processo. Alguns deles são rápidos, outros lentos, mas cada um no seu devido tempo. Enfim, são infinitos os ensinamentos. Uma reflexão para este momento é que a cada ano que acaba vem um outro, demarcando o fim e o começo. E assim vamos nós, como a natureza, acabando e começando a cada ano, mês, semana, dia, hora, minuto, segundo…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.