Daniele Vilela Cardoso Leite*
A pedofilia se caracteriza por forte atração sexual por crianças e é uma realidade que não deve ser desconsiderada ou anulada. São várias as formas de violência a que os seres humanos estão expostos tais como sequestros, assaltos, vinganças etc. e a pedofilia faz parte desse rol. Viver escondido por medo de tantos perigos não procede, assim como não ter um olhar crítico a respeito de suas possibilidades indica ingenuidade e negação dos fatos.
Pedófilo é aquele que sente atrações por crianças ditas pré-púberes, ou seja, que estejam na fase anterior à puberdade. O pedófilo tem suas relações interpessoais afetadas por tais desejos, e termina por realizá-los. Não existe causa comprovada para a pedofilia, mas muitos estudos são realizados a partir de exames cerebrais (ressonâncias magnéticas etc.). Existem algumas hipóteses mas nada que seja suficiente para que possamos considerar causa real. No entanto é certo observar que o pedófilo, que é considerado doente, é diferente do oportunista. Existem abusadores que por circunstâncias favoráveis, facilidade de acesso, falta de um parceiro fixo, podem vir a cometer o abuso e são ditos abusadores oportunistas, que relacionam-se com adultos e eventualmente devido às facilidades abusam de menores. É diferente da pessoa caracterizada patologicamente (a pedofilia é considerada uma doença psiquiátrica e consta no CID 10, “Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde”), que tem fantasias e forte atração preferencialmente por crianças.
É papel dos pais efetuar a educação sexual das crianças. Explicar como os bebês surgem, e relatar em linguagem que não seja de baixo calão. A Psicologia orienta que isso deve ser feito à medida em que surgem as perguntas. Os pais devem responder apenas o relativo à pergunta, e não aprofundar no assunto, desde que a criança não peça. Por exemplo, diante de uma pergunta: “de onde vem os bebês?” a resposta objetiva seria: ”da barriga da mãe” e se ela perguntar como foi parar lá dentro, aí sim, deve-se aprofundar um pouco mais na questão. É um erro falar sobre o tema com crianças muito novas, mas à medida que crescem e/ou perguntem sobre o assunto, devem ser orientadas pela família.
A escola também pode ajudar, mas a responsabilidade real é primeiro da família. Em relação à pedofilia, é importante orientar a criança que não deixe em nenhuma circunstância um adulto, mesmo que conhecido, fazer carícias ou tocar principalmente as partes íntimas de seu corpo. Mesmo as crianças mais novas podem ser orientadas, independente de já terem informações ou não a respeito de sexualidade. Basta orientar da mesma forma: não deixe ninguém acariciar você. Caso isso aconteça, comunique imediatamente, etc. Se algum dia seu filho mudar de repente de comportamento, ficar muito agressivo sem motivo aparente, ou quieto demais, ou de alguma forma muito diferente, comece a observá-lo com olhar mais crítico. Ele pode estar sendo vítima de algum tipo de abuso, ou mesmo uma doença como a depressão, ou algo parecido.
A linguagem infantil é diferente da adulta. Revela-se pelo comportamento, e o adulto precisa estar atento para perceber. Sem ficar preocupado em excesso, mas também sem ingenuidades exageradas. Qualquer desses extremos é prejudicial. Pais preocupados demais, tensos, desconfiados e amedrontados, ou pais muito permissivos, totalmente despreocupados e distantes das reações emocionais dos filhos estão equivocados. O meio termo é o necessário não apenas em relação à educação dos filhos, mas a todos os aspectos e papéis desempenhados enquanto indivíduo.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.