Daniele Vilela Cardoso Leite*
A respiração conecta o corpo às emoções. Liga e mantém esta conexão. Podemos permanecer sem os outros órgãos dos sentidos: audição, visão, paladar, olfato, tato, mas sem respirar não há como viver.
A forte relação entre a respiração e as emoções fica explícita quando, diante de uma crise de ansiedade, ou pânico, ou forte susto, a respiração se transforma, acelera, torna-se mais curta e rápida. Diante do aumento da adrenalina, o corpo fisiologicamente responde, e a respiração fatalmente se transforma.
Em momento de crise de ansiedade ou algo do gênero, respirar profundamente é uma maneira de controlar a crise. Determinada cliente acometida pela síndrome do pânico, relatava que ao perceber a aproximação dos sintomas iniciava uma série de respirações completas e assim conseguia um controle considerável, ao ponto de evitar a crise. Por aí vê-se a importância de um ato que muitos nunca tornaram consciente. Por ser involuntário, às vezes não é observado ou relevado.
A respiração completa citada acima como sendo utilizada para evitar uma crise, compreende a entrada do ar em três partes do nosso corpo. Na parte inferior, ou abdominal; parte média, ou do diafragma; e superior, ou do tórax.
No ocidente há o maléfico vício de se respirar apenas até o tórax, não englobando o diafragma e o abdômen. Utiliza-se apenas a respiração curta ou superficial. Segundo Ana Maria Marinho, no livro “80 Exercícios Respiratórios de Svásthya Yoga”, a respiração abdominal, ou a mais profunda, “é o melhor exercício de ação sedativa sobre o sistema nervoso. Elimina todas as tensões ou contrações abdominais, facilitando o trabalho de todo o sistema digestivo. Proporcionando ótimo descanso ao aparelho locomotor e ao sistema nervoso central. É a respiração ideal como exercício especial das pessoas superexcitadas, tensas, preocupadas, etc. As pessoas com tendência a asma encontram na respiração abdominal um método respiratório muitíssimo benéfico”.
Ao observarmos os recém-nascidos, é notório como a respiração é completa, desde o abdômen, passando pelas costelas, até o tórax. Eles ainda estão conectados com uma sabedoria instintiva que fica perdida ao longo da vida, caso não seja observada e conscientizada. Há hindus que permanecem horas seguidas praticando exercícios respiratórios. O que inclusive pode proporcionar alteração nos estados de consciência. Através do controle da respiração, eles chegam à meditação, ou seja, parada das ondas mentais (param por tempo indeterminado o pensamento em um só símbolo ou som).
A título de curiosidade, no livro ” Meditações e os Segredos da Mente”, o autor comenta que “muitos estudos experimentais têm demonstrado que a meditação é uma forma superior de substituição do “barato” das drogas (drogas psicodélicas, anfetaminas, ópio e álcool, já que 85% dos que as usam, quando começam a meditar, abandonam completamente seu uso”.
Segundo Ana Maria Marinho, “num simples dia um homem adulto respira aproximadamente 25 mil vezes, conduzindo aos pulmões cerca de 10 mil litros de ar. Desse total, os pulmões absorvem 450 a 500 mil litros de oxigênio e expelem quase outro tanto, 400 a 500 mil litros de gás carbônico. Através da respiração se processa a oxigenação do sangue, que, por sua vez, fornecerá a todas as células do organismo o oxigênio necessário a suas funções”.
Observe sua respiração. Observe seu corpo. Ele dialoga com você. Conta tudo a seu respeito. Escute-o. Perceba sua respiração. Com esta consciência você irá se relacionar melhor consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.
A observação corporal, que engloba a respiratória, possibilita mudanças de hábitos, ajuda a prevenir doenças, indica o caminho a seguir em relação à saúde, ao bem estar. A respiração e as emoções são intimamente interconectadas. Consciência nas duas traz mudança de vida, saúde física, emocional, mental.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.