Daniele Vilela Cardoso Leite*
Uma criança que apresente comportamento destrutivo, hostil, desagradável, possui certamente sentimentos de carência, insegurança, desajuste interno, ansiedade, falta de referência.
São crianças que têm dificuldade de expressar o que estão sentindo, ou não têm motivação para isso, ou têm medo e insegurança de manifestar seu verdadeiro sentimento. Então ele emerge, é expresso, em forma de agressão. Ela canaliza sua força e energia através da agressividade, pois é o que consegue.
Existem vários canais para que as emoções (boas e ruins) sejam expressas. A lágrima, o riso, a raiva, a agressão, o beijo, etc. Clark Moustakas, em seu livro Psicoterapia com Crianças, descreve a criança perturbada dizendo que com freqüência ela é motivada por sentimentos indiferenciados de medo e ira. Seu comportamento pode revelar hostilidade em relação a quase tudo e todos. Pais e professores geralmente partem do pressuposto de que um distúrbio na criança provém de uma fonte interna específica que algo definido dentro dela faz com que aja desta forma.
Ao contrário, é o meio ambiente que perturba a criança. Ela é provocada pelo ambiente e não pelas suas dificuldades internas. O que lhe falta internamente é habilidade para lidar com um ambiente que a deixa com raiva e com medo. Crianças assim estão pedindo socorro. Ajuda. Estão retornando para o mundo o que ele está trazendo, pois ainda não possuem os conhecimentos e vivências que possibilitem uma reação diferente. É incrível como crianças assim, quando são ouvidas e compreendidas, se transformam, melhoram.
Quando há algum adulto capaz de entende-la, há transformação. Às vezes é preciso a ajuda de um profissional, um terceiro que possa auxiliar a família para que ela compreenda o que está acontecendo e consiga se articular para mudar de postura com a criança e melhorar o que precisar . A linguagem de uma criança é toda simbólica. Ela passa as mensagens para os pais e para o mundo com suas atitudes, comportamento, forma de lidar com os desafios, as perdas, ganhos, alegrias e tristezas.
Crianças ensinam muito aos adultos. Lidar com criança exige uma habilidade de observação muito grande. Quando ainda não falam, os pais têm que ?adivinhar? porque choram. Se é fome, dor, ou algum outro tipo de incômodo. Caso apresentem um tipo de comportamento agressivo, os adultos ao redor têm que se perguntar o que há no ambiente que pode estar causando essa reação. Às vezes é mais fácil fazer um diagnóstico de uma criança agressiva do que de uma criança retraída, pois as retraídas não deixam aparecer resposta aparente à questão do que pode estar perturbando.
Ao receber afeto e limite, a criança capta a mensagem que serve de referência para que ela possa aprender aos poucos a organizar suas emoções, seu mundo interno. A importância desses dois elementos associados, o afeto e o limite, está presente em tudo que diz respeito à vida da criança. Com crianças agressivas não é diferente. Precisam de afeto e limite. Não só de limite como fazem muitos pais e professores. Precisam de compreensão, diálogo, mas claro, que estejam de acordo com sua idade (adultos às vezes tratam crianças como adultos).
Mas tudo isso requer trabalho por parte dos pais e educadores, e eles precisam estar abertos e dispostos. Segundo Violet Oaklander ?Os adultos não gostam do tipo de comportamento agressivo. Tal conduta tende a destruir a situação social na qual nos sentimos mais à vontade na nossa cultura?.
Outro item importante a ser observado é a questão do rótulo. Reclamar com a criança ou da criança, sempre se referindo a ela como agressiva é uma forma de reforçar esse comportamento. Qualquer criança precisa de atenção, compreensão, carinho. É bom lembrarmos: ela devolve ao mundo o que recebe dele…
Artigo baseado no livro “Descobrindo Crianças”, Violet Oaklander
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.