Daniele Vilela Cardoso Leite*
A partir do mini-curso “Alcoolismo e drogadicção: tratamento em uma comunidade terapêutica”, proferido no Centro Universitário Newton Paiva por Lúcio Márcio dos Reis,compartilho com você, leitor, algumas reflexões importantes.
– A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. Neste contexto percebemos que no cotidiano nem sempre estes direitos são respeitados na sociedade, em especial, aquelas pessoas que se encontram em situações mais desfavorecidas e/ou de classes minoritárias. A criação de sistemas e ambientes inclusivos é o caminho para a real participação social dos vários segmentos populacionais em nosso país. As comunidades terapêuticas, criadas para tratar dependentes químicos, tiveram seu inicio em 1958, em Santa Mônica, Califórnia, EUA., quando um grupo de alcoolistas em recuperação decidiram viver juntos em abstinência em um novo estilo de vida. Essas comunidades têm como objetivo recuperar fármaco-dependentes e alcoolistas, assim como auxilia-los no abandono do tabagismo em alguns casos. Visam alcançar a sua sobriedade plena e possibilitar uma reintegração com a família e com a sociedade. Quase todas as comunidades terapêuticas adotam o modelo Minnesota, que busca o desenvolvimento integral do homem a partir do tripé: oração + disciplina+ trabalho, método também muito difundido no Brasil.? ? Para organizar o atendimento destas comunidades, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) baixou a resolução 101 de 30 de maio de 2001, instituindo normas mínimas para iniciar a organização técnica e ética para um atendimento mais eficaz nestas comunidades.?
Em uma determinada comunidade denominada REVIVER, primeiramente faz-se uma definição do programa terapêutico. A modalidade de atendimento é o internato, os residentes participam do tratamento no período de 9 meses , morando na fazenda e participando das atividades programadas de acordo com as suas necessidades e orientações da equipe técnica multidisciplinar. Nesta modalidade o residente no quinto mês de tratamento passa o período de dez dias em sua residência para início do processo de retorno ao convívio nos diversos ambientes. Mensalmente o residente recebe os seus familiares na fazenda e contato telefônico é realizado semanalmente. São três etapas no processo. A primeira é a triagem para definir o nível de dependência, leve , moderado ou grave.A segunda etapa consiste no tratamento, durante o período de nove meses (desintoxicação, manutenção, integração, auto-conhecimento, família, projeto de vida, reinserção). Terceira etapa, pós-tratamento. Depois é feito um plano de prevenção e recaída?.
Diante deste estudo realizado por Lúcio Mauro dos Reis na comunidade Reviver, obtemos uma noção de basicamente como deve funcionar uma comunidade terapêutica.
É necessário lembrar que o indivíduo precisa desejar o tratamento. Não adianta toda a família empenhada e incentivando, se o próprio sujeito não perceber que realmente precisa e pode mudar sua vida.
Essas preciosas informações, estudadas mais a fundo no curso, refletem a complexidade e também a seriedade desse tipo de tratamento.
“Segundo SENAD (Secretaria Nacional Anti drogas), tratamento é um conjunto de medidas terapêuticas aplicadas a um paciente, no sentido de aliviar os transtornos decorrentes do uso indevido de drogas, visando sua recuperação e posterior reinserção social”.
São muitos os grupos articulados, governamentais e não governamentais que trabalham em função de benefícios importantes. Que as comunidades terapêuticas continuem fazendo seu papel e que todos saibam reconhecer o trabalho desse tipo de tratamento, valorizar , incentivar…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.