Daniele Vilela Cardoso Leite*
Vem sendo bastante explorada ultimamente pela mídia, a questão da necessidade do limite na educação de uma criança. Içami Tiba, especialista no assunto falou à Revista Veja na semana do dia 04/06, entre outros veículos de comunicação que vêm enfatizando o tema.
Com a violência crescendo assustadoramente, inclusive entre adolescentes da classe média, ditos “bem educados”, na verdade pseudo-educados, que queimam índio, matam familiares, fazem pegas, disputando quem alcança a maior velocidade no carro, roubam (explícita e implicitamente) para conseguir dinheiro que mantenha os vários vícios (desde roupas caras à ecstasy), realmente os psicólogos, analistas do comportamento humano e educadores têm mesmo que repensar o papel do limite na educação.
A mídia vem explorando inclusive o papel do limite não apenas em crianças, mas também nos adultos, pois são várias as pessoas comentando sobre o papel da atriz Giulia Gan, em que ela interpreta a Heloísa na novela global das 8 horas. Este personagem ama sem limites, exageradamente. Como diz o ditado popular, “tudo que é demais sobra”, até mesmo as coisas boas, como o amor.
Lidamos com o limite o tempo todo. Limitamos o tempo que dormimos, o quanto comemos, o quanto amamos, a velocidade do carro, o quanto nos divertimos, o pensamento quando meditamos (para assim libertá-lo), o quanto trabalhamos. O filho que não aprende estes limites através dos pais, aprende através da vida, de maneira muito mais dolorosa.
Pobres coitadas são as crianças mimadas. O “Psicologismo” dos anos 60 extrapolou por defender a total liberação dos impulsos e extintos. Antes dos anos 60 havia grande repressão destas instâncias. Precisamos, no momento, encontrar o equilíbrio entre esses pólos extremos de repressão e liberdade excessivos. Este equilíbrio é a sensatez e o discernimento para perceber quando ser liberal e quando limitar as próprias atitudes e emoções e as dos filhos.
Para ensinar aos filhos, o pai, mãe, educador, tem que ter noção do seu próprio limite. É uma cadeia em que os mais novos vão sendo influenciados pelos mais velhos e assim sucessivamente.
Lula falou, na semana passada, no Congresso da Cut, “se seu filho quer um presente e você não tem condições financeiras de comprar, é melhor ser sincero e falar: não tenho! Quando puder, eu dou!” Ele usou esse exemplo para dizer que não era o momento de abaixar os juros.
Na verdade, o mais indicado é ser sincero com o filho. Como as pessoas muitas vezes não sabem ser sinceras nem consigo mesmas, nem com o outro, não conseguem pôr o limite adequado. Além de tudo, colocar o limite implica muitas vezes em frustrar o outro e para muitos isso dói ? por exemplo, este caso do presente do filho. O limite, quando permeado pelo diálogo, e pelo entendimento, é mais facilmente assimilado. Com a conversa, os canais de comunicação ficam mais abertos e a convivência mais harmônica.
Portanto, pais, descubram seus próprios limites, sejam autênticos e sinceros consigo mesmos e com o próximo, trabalhem o autoconhecimento, e acima de tudo, coloquem o limite em seus filhos com diálogo, pois a criança ou o adolescente podem reclamar, não gostar, ter dificuldade em entender, ou no momento não entender realmente, mas quando você explica os seus motivos e razões para determinadas atitudes, é diferente de você apenas impor suas determinações.
Lembre-se de que trabalhando sua inteligência emocional, automaticamente, estará trabalhando a de seus filhos e, assim , todos serão beneficiados!
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.