Daniele Vilela Cardoso Leite

Amor

Daniele Vilela Cardoso Leite*

Qual a relação há entre o amor e a cultura na qual ele acontece? Martin Buber diz que “vemos o poder sutil que o costume exerce sobre nossas vidas. Normas e condicionamentos culturais são as grandes pressuposições não questionadas que norteiam nossas vidas.
Nós nos acostumamos aos papéis; estes se tornam habituais, e como tal inquestionáveis. O costume é como a formação de um nevoeiro; só o percebemos quando se desfaz e aparece um dia claro, límpido. Por vezes deixamos de perceber os contornos de um novo desenvolvimento cultural até que seus efeitos estejam por toda parte. Padrões antes inquestionáveis de casamento, família, sexualidade e instituições sociais estão sendo abalados por alternativas radicalmente novas ou antigas. Não há fórmulas e são muitos os fracassos, mas há um número crescente de pessoas que procuram ver com maior clareza, amar com maior sinceridade e causar menos sofrimentos. As atitudes, e não as respostas em si, são a chave”.
Como Martin disse, o costume embaça os acontecimentos. Um homem casado há 10 anos, pode jurar que conhece sua esposa e um dia se surpreender com uma atitude dela, porque a cada fase ela é uma pessoa diferente. Foi se lapidando, e os olhos dele não acompanharam as mudanças. O amor, como é um sentimento humano, se inventa a cada dia. Se renova, muda suas nuanças, e quem tem medo do novo, não se arrisca, paralisa, enrijece, fica literalmente para trás. O relacionamento amoroso é o espelho da evolução pessoal de cada um dos parceiros, e quando um “alça vôos” e o outro fica com os pés na terra, a convivência fica comprometida. O amor que completa (até onde isto é possível na condição de humanos que somos) é aquele em que há a entrega ao crescimento de cada um e dos dois enquanto casal.
Diz Simone de Beuavoir que “o amor genuíno deve fundar-se no reconhecimento mútuo de duas liberdades”. “O relacionamento é sempre novo, uma experiência livre para transformar-se no que quer que seja. Apóia-se na segurança que emana do abandono da certeza absoluta.” Muitos dirão: quão utópico é esse amor! E aqui entra em cena novamente a questão cultural. Observa-se a cultura do ter ao invés do ser, muito presente em nosso mundo globalizado e consumista. O desenvolvimento emocional fica subordinado e misturado ao tecnológico e os prazeres fugazes muito presentes. Vários são os que não querem pagar o preço de vencer as dificuldades do dia a dia em nome da construção do amor, e muitos se entregam uns aos outros aleatoriamente, sem observar se há a possibilidade da verdadeira fusão de vidas.
Enfim é fundamental estarem todos em movimento, se mexendo, procurando, buscando a evolução, o desenvolvimento enquanto pessoa e casal, errando, acertando, desde que em movimento, não estagnados, acreditando na grandiosidade, beleza e possibilidade do amor…
“Deixa eu dizer que te amo, deixa eu pensar em você, isso me acalma, me acolhe a alma, isso me ajuda a viver. Hoje contei pras paredes, coisas do meu coração, passeei no tempo, caminhei nas horas, mais do que passo a paixão, é um espelho sem razão, quer amor fique aqui. Meu peito agora dispara, vivo em constante alegria, é o amor quem está aqui.” Amor I Love You, Amor I Love You… ( Carlinhos Brown / Marisa Monte )

*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.

Comments (0)
Add Comment