Daniele Vilela Cardoso Leite*
Da mesma forma que as mãos acariciam, elas podem agredir. Dão e tiram. Machucam e curam. Criam e destroem. Transmitem o bem e o mal. Sentimentos bons e ruins. Amor e ódio. Energias positivas e negativas. Força e fraqueza.
No último artigo citei como leitura imperdível “Mulheres Que Correm Com os Lobos” (Lendo o livro, deparei-me com determinados comentários a respeito da força e poder que emanem de nossas mãos).
“Quando se estudam presépios da região do Mediterrâneo, com grande frequência vê-se que as mãos dos pastores e dos Reis Magos, ou de Maria e José, são todas posicionadas de modo a ter as palmas voltadas para o Menino Jesus, como se a criança fosse uma luz que pudesse ser recebida através da pele das palmas. No México, também se percebe o mesmo gesto em estátuas da Grande Deusa de Guadalupe que derrama uma luz purificadora voltando sobre nós as palmas das mãos. O poder das mãos é registrado desde o início dos tempos históricos. Em Kayenta, na reserva navajo, há uma certa cabana com uma antiga marca de uma mão vermelha ao lado da porta. Ela quer dizer: ‘Aqui estamos em segurança’.
“Como mulheres, tocamos muitas pessoas. Sabemos que nossa palma é uma espécie de sensor. Quer seja num abraço, numa palmadinha, quer seja num simples toque no ombro, estamos interpretando as pessoas que tocamos. Se estivermos ligadas a La Que Sabé (digamos que seja uma espécie de intuição e alma feminina) sabemos o que o outro ser humano sente quando o apalpamos. Para algumas pessoas chegam-lhes informações sob a forma de imagens e até mesmo de palavras, dando-lhes conta do estado emocional do outro. Poderíamos dizer que existe nas mãos uma espécie de radar.
“As mãos não são só receptores, mas também transmissores. Quando apertamos as mãos de alguém, podemos enviar uma mensagem, e com frequência o fazemos através da pressão, da intensidade, da duração e da temperatura da pele. As pessoas que, consciente ou inconscientemente, têm más intenções apresentam toques que dão a impressão de estar fazendo perfurações no corpo da alma psíquica do outro. No outro pólo psíquico, a colocação das mãos sobre uma pessoa pode aliviar, confortar, remover a dor e curar. Esse é o conhecimento da mulher através dos séculos, transmitido de mãe para filha.”
É bonito ver a infinidade de possibilidades de conhecermos e trocarmos com as pessoas. Assim como as mãos, desde a cabeça até os pés, todo o nosso corpo fala a nosso respeito.
Percebemos a grandeza e a sutileza do homem que é a mistura dessa semente humana e terrena com a divina e cósmica, e o resultado é uma complexidade que nos oferece a cada instante a possibilidade de fazermos novas e bonitas descobertas uns sobre os outros e cada um sobre si mesmo. Basta para isso estamos com o coração aberto, atentos e alertas.
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.