Daniele Vilela Cardoso Leite*
Adolescência é uma etapa da vida muito específica, complexa e peculiar. Costumo fazer um paralelo que virar adolescente é como a história de um adulto que todos os dias vai trabalhar e passa pelo mesmo trajeto. Um dia avista uma grande árvore e pensa: nunca vi esta árvore. Hoje é a primeira vez que a vejo e ela está aqui há tantos anos… Ser adolescente é isso. Percebe-se realidades que sempre estiveram presentes mas nunca foram realmente notadas. A questão existencial por exemplo. A criança percebe a morte, mas é na adolescência que as impressões tornam-se claras de acordo com a forma da cultura em que o indivíduo está situado.
O Jornal “Estado de Minas” recentemente publicou um artigo chamando atenção para um fato preocupante. Segundo Humberto Correa da Silva Filho, Presidente da Associação Brasileira para Estudo e Prevenção do Suicídio, o primeiro grupo de pessoas que cometem o suicídio é de jovens (e o segundo grupo é o de idosos). Como estar na adolescência de um modo geral não é fácil, é importante que o jovem tenha apoio e atenção. Daí vem a força para superar os desafios. Quando alguém não está bem e precisa de ajuda, se há outros ao redor prestando atenção, há como prevenir e tratar uma situação radical como o auto extermínio.
A questão é que muitos pais não são realmente presentes como deveriam. As vezes oferecem estudo, alimentação, mas não dão a devida atenção. “Quanto mais as emoções são compreendidas, respeitadas e direcionadas, melhor será a vida”. Muitos pais investem na educação cognitiva e se esquecem ou não sabem oferecer a educação emocional. Ser adolescente é estar em uma fase complexa, geralmente época de incertezas, inseguranças. É também uma fase em que ocorre o segundo corte do cordão umbilical, corte simbólico, no sentindo em que os pais deixam de ser os super-heróis da infância e passam a ser vistos de forma real, com defeitos e qualidades. E tal fato traz incômodo e dores emocionais aos pais. Muitos por medo e insegurança, dificultam o crescimento dos filhos. É uma fase de transição tanto para pais como para filhos.
É preciso amar o filho como ele é, incondicionalmente. E não amar se ele for desse ou daquele jeito. Amar com respeito à individualidade, às diferenças. Há pais que dizem que filho é bom enquanto é criança. Revelam nessa fala autoritarismo e limitação, pois realmente na adolescência as diferenças surgem de forma explícita. Isso é inerente ao ser humano. Não deve ser negado e sim aceito e integrado. Pais que pensam assim revelam que precisam vivenciar processos emocionais que conduzirão a mais maturidade e preparo para lidar com determinadas situações. Aos pais, escutem seus filhos, seja em qual idade estiverem. Devemos dar atenção verdadeira, pois essa é a melhor proteção contra surpresas ruins e a melhor forma de investir na realização de todos, pais e filhos…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.