Daniele Vilela Cardoso Leite*
Estar com a mente no mesmo lugar em que se encontra o corpo é uma questão de treinamento e educação mental. Quantos são os alunos que estão dentro da sala de aula, mas apenas o corpo, pois a consciência está no passeio que querem fazer, no jogo que participarão, na comida desejada, no (a) namorado (a), em alguma preocupação existente, ou em alguma outra fonte de prazer.
Muitos têm aula pela manhã e durante toda a tarde permanecem com o livro aberto, mas a mente vagando, em pleno passeio pelos mais variados lugares e situações.
Estar com a mente e o corpo em um mesmo local e objeto fazem a diferença quando nos referimos a um bom estudante ou não. E não apenas os estudantes acadêmicos. Estamos na escola da vida e quem consegue estar presente a cada momento e a cada acontecimento por inteiro, lucra e com certeza ganha um aprendizado maior. Como diz o ditado alemão ? ?Ah! Se os jovens soubessem e os velhos pudessem?…
A concentração, principalmente segundo os ensinamentos dos orientais, vem do treino. Eles procuram uma posição firme e confortável e acalmam a mente, em atitude de concentração, e a etapa posterior é fixá-la em um ponto (símbolo ou música, mantra) para meditar, ou seja, parar as ondas mentais. Para eles a concentração é um passo anterior à meditação. E caso mil pensamentos invadirem a mente, eles os acolhem e depois cuidadosamente pedem licença e voltam a concentrar e meditar. Se for necessário pedir licença muitas vezes eles pedem sem perderem a paciência. Até que um dia venham menos pensamentos e até que eles adquiram maior controle sobre suas mentes. Ou seja, é questão de treinamento.
Como fazemos musculação para fortalecermos os músculos (repetição de exercícios físicos, também repetimos e treinamos os exercícios mentais. Existem estudantes treinados e concentrados e alunos totalmente destreinados e dispersos. Mas para haver esse hábito o aluno tem que desejar. Tem que querer. ?O melhor professor e os melhores livros serão incapazes de fazer o aluno aprender se ele não o desejar?.
Assim também na vida. Está tudo disponível ao ser humano. A vida está aí, para quem tiver disposição e desejar. É preciso motivação e abertura para viver, para superar obstáculos, descobrir o novo. ?Se você quer que o sol entre em sua casa tem que abrir a porta e as janelas. Para vir a vida temos que nos abrir. Deseja-la, aceitá-la como ela é. Segundo Jung só transformamos o que aceitamos.
Na infância, a capacidade de aprendizado é muito maior. E muito dessa realidade vem do fato de que crianças possuem corpo e mente mais conectados e não preenchem a mente com preocupações excessivas. Geralmente estão onde estão, ou seja, a mente acompanha o corpo. Estão mais inteiras no que aprendem e a cada momento vivido. Que possamos deixar de viver mecanicamente para vivermos intensamente o momento presente, observando-nos e ao mundo ao nosso redor.
Observarmos e vivermos cada minuto. Tomamos o café da manhã assistindo tv, conversando, e nem percebemos o café, sendo que alguém preparou a terra. Alguém jogou uma semente de café. Alguém aguou. Alguém colheu. Alguém torrou. Alguém moeu. Alguém empacotou. Alguém levou para o supermercado. Alguém comprou no supermercado. Alguém coou. Que possamos beber o café inteiros, saboreando, que possamos degustar….
-Há um famoso guru que se iluminou. Seus discípulos perguntavam-lhe: -Mestre, o que o senhor conseguiu como resultado de sua iluminação; o que a iluminação lhe deu. O Homem respondeu: Bem, vou contar-lhes o ela me deu: quando eu como, eu como; quando eu olho, eu olho; quando eu escuto, eu escuto. Foi isso que ela me deu! Os seus discípulos retrucaram: todo mundo faz isso! E o mestre riu a valer: -todo mundo faz isso! Então todo mundo deve ser iluminado?! A questão é que quase ninguém faz isso. Quase ninguém está aqui, vivo…
*Daniele Vilela Cardoso Leite é Psicóloga, professora de Yôga e colunista do jornal Acontece (Caeté-MG) de 1999 a 2017, quando foi encerrada a circulação da edição impressa.